O Pix, ferramenta de pagamentos instantâneos que revolucionou as transações financeiras no Brasil, também se tornou um terreno fértil para criminosos. Em 2024, o Banco Central (BC) contabilizou um assustador aumento de 80% nas queixas de fraude, saltando de 2,6 milhões em 2023 para mais de 11 milhões de registros.
Desse montante alarmante, 4,7 milhões de casos foram confirmados, resultando em um rombo de quase R$ 6,5 bilhões nos bolsos dos correntistas. Os dados, obtidos pelo jornal O Estado de S. Paulo através da Lei de Acesso à Informação, expõem a vulnerabilidade do sistema e a sofisticação das quadrilhas.
Pequena Luz no Fim do Túnel: Devoluções Ainda Tímidas
Diante do prejuízo bilionário, o Banco Central conseguiu garantir a devolução de aproximadamente R$ 459 milhões aos usuários lesados em 2024. Embora represente um esforço, esse valor corresponde a apenas 7% do total movimentado em golpes financeiros, roubo de contas e extorsões.
Os números revelam que, dos 5 milhões de pedidos de devolução feitos através do Mecanismo Especial de Devolução (MED) – criado em novembro de 2021 –, apenas 1,56 milhão foram aceitos. A maioria das recusas (86%) se deu pela falta de saldo nas contas dos destinatários, uma tática comum das quadrilhas que pulverizam rapidamente os valores roubados em contas laranjas, dificultando o rastreamento e a recuperação do dinheiro.
R$ 5 Bilhões Evaporaram: A Dificuldade de Rastrear o Dinheiro Fantasma
Apesar do Pix possuir o Dict, um sistema de rastreamento que reúne informações das contas, a trilha do dinheiro se torna tênue após múltiplas transferências, devido a limitações computacionais. Essa agilidade dos criminosos em movimentar os valores entre laranjas torna a recuperação dos recursos uma tarefa árdua, como explica José Roberto Kracochansky, fundador da fintech Jazz Tech.
Laranjas: Peças-Chave na Engrenagem do Crime
Os "laranjas", muitas vezes aliciados com a promessa de uma pequena parte do valor, fornecem seus dados e documentos, dificultando a identificação da fraude. A análise comportamental se torna crucial para tentar identificar perfis de risco.
Medidas de Combate e o Autoatendimento como Esperança
O Banco Central informa que instituições financeiras podem marcar CPFs e CNPJs envolvidos em fraudes e encerrar contas ligadas a atividades criminosas. Há também cooperação com a Polícia Federal para o compartilhamento de informações.
Uma novidade promissora para as vítimas é a implementação do autoatendimento do MED, com previsão para 1º de outubro. Essa ferramenta permitirá que os usuários contestem transações diretamente no aplicativo do banco, agilizando o processo de solicitação de devolução e aumentando as chances de bloqueio dos valores na conta do fraudador.
Proteja-se: Saiba Como Agir em Caso de Fraude ou Envio Errado
- Envio Errado: Na área Pix do seu banco, vá em Extratos, clique em “Devolver”. O valor será retornado para quem enviou originalmente.
- Golpe: Faça uma reclamação imediata à sua instituição financeira em até 80 dias após a fraude. O banco tem até sete dias para analisar o caso.
A explosão das fraudes no Pix serve como um alerta para a necessidade de cautela e para a urgência de aprimorar os mecanismos de segurança e rastreamento do sistema. A implementação do autoatendimento do MED é um passo importante, mas a conscientização e a prevenção continuam sendo as melhores armas contra os golpistas.
