Publicado em: 26/03/2025
Bolsonaro enfrenta processo por golpismo e intensifica retórica antidemocrática
A Primeira Turma do STF aceitou por unanimidade, nesta quarta-feira (26), a denúncia contra Jair Bolsonaro e sete aliados por organização criminosa armada e tentativa de golpe de Estado entre 2022 e 2023. O ex-presidente, agora réu, responde ainda por dano qualificado ao patrimônio público e ataque ao Estado Democrático de Direito – crimes que somados podem ultrapassar 30 anos de prisão. O caso expõe a escalada antidemocrática que culminou nos ataques de 8 de janeiro, cujos prejuízos ao patrimônio tombado de Brasília chegaram a R$ 25 milhões (MPF, 2024).
Coletiva em tom de campanha: fake news e revisionismo histórico
Em resposta ao STF, Bolsonaro realizou uma coletiva sem direito a perguntas, repetindo falsas alegações sobre urnas eletrônicas – já refutadas por auditorias do TSE e missões internacionais, como a da OEA, que atestaram a lisura das eleições de 2022 com 99,99% de integridade. O ex-presidente elogiou o sistema venezuelano de voto em papel, ignorando que o país registrou 3.158 denúncias de fraude em 2023 (Observatório Eleitoral Venezuelano). Seu discurso ecoa narrativas autoritárias: 62% dos brasileiros desconfiam de suas alegações, segundo o Datafolha (junho/2024).
Ataques às instituições e tentativa de reescrever o próprio legado
Bolsonaro mirou especificamente o ministro Alexandre de Moraes e Flávio Dino, acusando a PF e o STF de "perseguição", mas evitou explicar o áudio de 2022 em que pedia "estado de sítio". Enquanto isso, distorceu dados de seu governo: citou redução de homicídios sem mencionar o recorde de mortes por armas de fogo (50.033 em 2022, Atlas da Violência), e omitiu que o desmatamento médio anual em seu mandato (11.396 km²) foi 74% maior que no governo Dilma (Inpe).
Ineligibilidade e risco de radicalização política
Apesar de inelegível até 2030 por abuso de poder político, Bolsonaro sinalizou pretender disputar 2026 – movimento classificado por juristas como "afronta à Lei da Ficha Limpa". Seus ataques ao sistema eleitoral alimentam tensões: 38% dos apoiadores declaram "não aceitar resultados adversos em 2026" (Ipespe/2024). Enquanto isso, aliados como o deputado Ramagem (réu no mesmo processo) articulam projetos para dificultar prisões de autoridades, como a PEC 8/2024.
Democracia sob teste: o que os próximos passos revelam
O caso no STF ocorre em meio a avanços lentos na responsabilização de golpistas: apenas 214 dos 1.390 investigados por 8/1 foram condenados (MPF, junho/2024). Para especialistas em segurança nacional, a postura de Bolsonaro reflete uma estratégia de tensionamento institucional. "É o manual do autogolpe: criar caos para justificar ruptura", analisa a cientista política Beatriz Rey (FGV). Enquanto o processo avança, o Brasil assiste a um teste decisivo: até onde a Justiça conseguirá frear a erosão democrática em curso.