Publicado em: 24/03/2025
Justiça liberta torcedores após violência pré-Clássico-Rei, mas episódio acende alertas sobre segurança em eventos esportivos
A Justiça cearense determinou a soltura de 10 torcedores presos em flagrante após violentos confrontos nas vésperas do Clássico-Rei entre Ceará e Fortaleza, no último sábado (22). A decisão, que substituiu a prisão por medidas como monitoramento eletrônico, reacende debates sobre segurança pública em eventos esportivos – um desafio crítico no Brasil, país que registrou 230 incidentes violentos em estádios em 2023, segundo o Atlas da Violência.
O grupo, acusado de participar de brigas com socos, pedradas e até um atropelamento nas proximidades da Avenida Francisco Sá (bairro Carlito Pamplona), passou por audiência de custódia. O juiz rejeitou o pedido do MPCE pela prisão preventiva, argumentando que "não há indícios de associação criminosa organizada" e classificando o episódio como "evento isolado". A defesa celebrou a decisão: "A liberdade é a regra. A presunção de inocência foi respeitada", afirmou o advogado Roberto Castelo Branco.
Violência em vídeo e risco à população
Imagens que viralizaram nas redes mostram cenas caóticas: torcedores se agredindo, objetos sendo arremessados e um carro atingindo pessoas no meio da confusão. Moradores relataram medo durante os confrontos, que ocorreram em via residencial. "Pedras voaram perto das janelas. Foi assustador", relatou uma testemunha ao Diário do Nordeste.
De acordo com documentos do caso, parte dos envolvidos estava em dois veículos (um Ônix preto e outro branco), e policiais afirmaram haver "indícios claros de participação nas agressões". Apesar disso, a Justiça ponderou que "a reunião momentânea para violência não configura crime organizado", baseando-se em precedentes do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Equilíbrio jurídico vs. segurança coletiva
A decisão reflete um dilema frequente: como punir atos violentos sem ferir garantias individuais? Enquanto defensores destacam que 73% das prisões em flagrante no Ceará são revertidas em medidas alternativas (dados do CNJ, 2023), especialistas em segurança alertam para a impunidade. "Episódios assim normalizam a violência nas ruas. É urgente políticas preventivas, como o veto a concentrações próximas a residências", opina o sociólogo e pesquisador em segurança esportiva, Marcos Almeida.
O caso ocorre em um contexto sensível: apenas em 2024, o estado já registrou 18 incidentes graves em jogos, incluindo invasões de campo e depredações. Para autoridades, o desafio é garantir o direito ao esporte sem comprometer a ordem pública – uma equação que exige diálogo entre clubes, torcidas e poder judiciário.
Enquanto os torcedores liberados respondem ao processo em liberdade, o episódio deixa claro: a paz nos clássicos depende não apenas de leis, mas de uma cultura de responsabilidade compartilhada.