Publicado em: 03/04/2025
Operação Overclean expõe esquema bilionário de corrupção no Nordeste
A Polícia Federal (PF) deflagrou nesta quinta-feira (3) a terceira fase da Operação Overclean, cumprindo 16 mandados de busca e apreensão em Salvador, São Paulo, Belo Horizonte e Aracaju. A ação, autorizada pelo STF (Supremo Tribunal Federal), investiga desvios de emendas parlamentares, fraudes em licitações e lavagem de dinheiro no Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas), órgão estratégico no combate à seca no Nordeste. Um servidor público foi afastado, e o sigilo sobre investigados — incluindo o deputado federal Elmar Nascimento (União Brasil) — segue mantido pelo ministro Kassio Nunes Marques.
Desvios no Dnocs e o papel de parlamentares
As investigações apontam que um grupo criminoso desviou R$ 1,4 bilhão de recursos públicos, direcionando emendas e convênios para empresas ligadas a prefeituras da Bahia, com superfaturamento de obras. O esquema, que envolve corrupção ativa, peculato e obstrução de justiça, teria infiltrado o Dnocs durante o governo Bolsonaro, sob comando de Lucas Lobão, ex-gestor do órgão no estado. Em dezembro, a primeira fase da operação prendeu empresários como os irmãos Alex e Fábio Rezende Parente, além de José Marcos de Moura, "rei do lixo" e figura influente do União Brasil.
Revogações de prisões reacendem debate sobre impunidade
Na última quinta (19), a juíza Daniele Maranhão, do TRF-1, revogou as prisões preventivas de investigados da primeira fase, substituindo-as por tornozeleiras eletrônicas e proibição de contato entre envolvidos. A decisão, que liberou acusados de movimentar R$ 1,4 bilhão em fraudes, reacende críticas sobre a efetividade das punições em casos de corrupção estrutural.
Segunda fase da operação revela infiltração na própria PF
Em dezembro, a segunda fase da Overclean prendeu quatro pessoas, incluindo o vice-prefeito de Lauro de Freitas (BA), Vidigal Cafezeiro Neto (Republicanos), e o lobista Carlos André, operador do esquema. A investigação expôs até mesmo a participação de policiais federais, como Rogério Almeida Medeiros, acusado de vazar informações sigilosas. A servidora Lara Betânia Lélis, da prefeitura de Vitória da Conquista (BA), também foi afastada por suposta colaboração com o grupo.
Montante desviado chega a R$ 1,4 bilhão, aponta investigação
Segundo a PF, contratos fraudulentos e obras superfaturadas — muitas relacionadas a projetos contra a seca — beneficiaram empresas com ligações políticas. O Dnocs, subordinado ao Ministério da Integração Nacional, é alvo central das apurações, com indícios de que licitações foram manipuladas para garantir lucros ilícitos a investigados.
Cronologia do caso e próximos passos
Desde janeiro, o STF assumiu o caso após menção a Elmar Nascimento, líder do União Brasil na Câmara. Enquanto prefeituras baianas afirmam cooperar com as investigações, a PF alerta para a complexidade do esquema, que combina poder político, infiltração institucional e lavagem de dinheiro. A decisão do ministro Kassio Nunes Marques sobre quebras de sigilo e possíveis denúncias deve definir os rumos do processo, em um cenário onde o combate à corrupção ainda enfrenta resistências estruturais.