Publicado em: 30/03/2025
Lagoa do Videl: um paraíso efêmero sob pressão no Ceará
A Lagoa do Videl, cenário de águas cristalinas e um cajueiro submerso no município de Paraipaba (CE), vive um dilema entre encantar turistas e resistir às mudanças climáticas e à pressão humana. Visível apenas entre junho e outubro, ela desaparece por sete meses ao ano, vítima da irrigação agrícola e da evaporação. Em 2023, guias locais relataram que o período de “vida” da lagoa encolheu 15% na última década, reflexo de chuvas irregulares e uso intensivo de recursos hídricos.
Acesso arriscado: entre a beleza e o isolamento
Localizada a 30 minutos de carro da Praia de Lagoinha, a lagoa exige veículos 4x4 e conhecimento do terreno — especialmente na estação chuvosa (dezembro a maio), quando trilhas lamacentas e alagadas aumentam o risco de acidentes. “Só 40% dos visitantes chegam sem ajuda de guias”, afirma Adilson Soares, bugueiro com 15 anos de experiência. A falta de sinalização e infraestrutura básica, como banheiros ou áreas de apoio, transforma o trajeto em uma aventura que pode custar até R$ 300 em passeios guiados.
Turismo viral: quando as redes sociais ameaçam o paraíso
Popularizada no TikTok e Instagram, a Lagoa do Videl recebeu 8.000 visitantes em 2023, segundo a Secretaria de Turismo de Paraipaba. Nos fins de semana, filas de buggies e banhistas turbilhonam a água, reduzindo a visibilidade de 10 metros para menos de 2 — e gerando decepção. “Muitos acham que as fotos são editadas, mas a culpa é do excesso de gente”, explica Soares. Apesar de frágeis, as redes sociais impulsionaram a economia local: pequenos comércios, como a barraca de bebidas aberta por um morador em 2022, são agora a principal fonte de renda para 12 famílias.
Preservação em cheque: o cajueiro submerso e o lixo invisível
O símbolo da lagoa, um cajueiro centenário que sobrevive submerso, enfrenta raízes apodrecidas pelo contato constante com banhistas. Biólogos alertam que, sem controle, a árvore pode colapsar em cinco anos. Já o lixo — principalmente garrafas plásticas e embalagens — aumentou 70% desde 2021, segundo o coletivo ambiental Salve o Videl. Apesar de campanhas de conscientização, apenas 30% dos visitantes recolhem seus resíduos. “Se continuar assim, em uma década não sobrará nada”, alerta Maria Alves, líder do movimento.
Para além do Videl: outras joias ameaçadas
O roteiro turístico da região inclui a Praia do Capim Açú (deserta, mas com erosão acelerada) e a Lagoa dos Jegues, que perdeu 20% de sua área desde 2020. Para Adilson, a solução está no turismo responsável: “Mostramos a beleza, mas ensinamos a proteger”. Enquanto isso, o Ceará debate como equilibrar fama e conservação — um desafio tão complexo quanto efêmero, assim como a própria Lagoa do Videl.