O Amor Virou Obsessão? A Sombra Perigosa do Stalking que Silencia Vítimas - Pagenews

O Amor Virou Obsessão? A Sombra Perigosa do Stalking que Silencia Vítimas

Publicado em: 16/04/2025

O Amor Virou Obsessão? A Sombra Perigosa do Stalking que Silencia Vítimas
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Flores insistentes na porta, mensagens que não cessam, um "encontro casual" que se repete... O que pode parecer um flerte persistente ou uma demonstração de afeto apaixonado pode, na verdade, esconder uma ameaça silenciosa e devastadora: o stalking. Essa perseguição implacável, que invade a rotina e mina a paz, vai muito além de uma mera insistência, como alerta Dra. Sofia Alencar, psicóloga especializada em comportamento abusivo. Ela nos guia por essa teia sombria que aprisiona vítimas em um ciclo de medo e angústia.


Imagine viver sob o olhar constante de alguém que não aceita um "não". Essa é a realidade cruel de quem sofre stalking, um comportamento que se manifesta em múltiplos cenários: no ambiente profissional, na vizinhança, nos corredores da escola, nos espaços de fé e, dolorosamente, até dentro do próprio lar. A presença do perseguidor se torna uma sombra onipresente, borrando as fronteiras entre o físico e o virtual. "As táticas são variadas e insidiosas: interações forçadas e repetitivas, uma vigilância sufocante, o escrutínio constante da vida da vítima e, em uma tática ainda mais invasiva, o contato com seu círculo íntimo – amigos, filhos, pais – numa tentativa de isolá-la e controlá-la", explica a Dra. Alencar.


É assustador como atos que deveriam despertar alarme são, por vezes, envoltos em uma aura romântica, tanto para quem os pratica quanto para quem os presencia. A psicóloga lança luz sobre essa perigosa distorção cultural. "Essa romantização se nutre de profundas desigualdades de gênero e expectativas sociais arcaicas. A ideia de que a persistência masculina é uma chave para 'conquistar' uma mulher perpetua essa visão deturpada. Comportamentos que são, em sua essência, abusivos e invasivos são erroneamente interpretados como gestos de amor ou cuidado."


O stalking não veste uma única máscara. Longe de se restringir a ex-parceiros inconformados, ele assume diversas formas, desde a sutileza sufocante da "hiper intimidade" – um excesso de "carinho" que oprime – até a invasão explícita do cyberstalking, que usa as redes sociais e o mundo digital como ferramentas de rastreamento e intimidação. "E, em sua face mais sombria, o stalking escala para o assédio direto, a coerção brutal e até mesmo ameaças que se estendem aos entes queridos e animais de estimação da vítima", adverte a Dra. Alencar.


Quando a Paz se Desfaz: As Cicatrizes Emocionais e Sociais:


As consequências para a saúde mental das vítimas são devastadoras, como detalha a especialista. Um turbilhão de ansiedade, paranoia, depressão e o espectro do estresse pós-traumático podem se abater sobre elas. Muitas, buscando refúgio em um mundo que se tornou hostil, optam pelo isolamento, carregando o peso da vergonha, o medo da incredulidade alheia ou a angústia de proteger aqueles que amam. "Acreditam, erroneamente, que o afastamento de familiares e amigos será um escudo contra o perseguidor. Mas, além disso, a raiva, a desconfiança paralisante e o desespero corroem a própria capacidade de se relacionar com o mundo", lamenta a Dra. Alencar.


A rotina, antes um porto seguro, se transforma em um labirinto de precauções. Mudanças de trajetos, horários incertos, o abandono de lugares antes frequentados e até o receio de usar as redes sociais se tornam medidas de sobrevivência. "A proliferação do cyberstalking torna a proteção uma batalha ainda mais árdua. A facilidade com que a presença digital permite o rastreamento impõe a adoção de estratégias de autoproteção cada vez mais complexas e desgastantes."


A Dra. Sofia Alencar é enfática: o debate sobre o stalking não é apenas necessário, é urgente. É preciso desmantelar os mitos que o cercam e romper com a naturalização perversa desses comportamentos. "A chave para libertar as vítimas reside no conhecimento e na empatia. A sociedade precisa aprender a ouvir e acreditar em quem denuncia, deixando de lado a visão distorcida de 'demonstrações de amor' para finalmente encarar o stalking pelo que ele realmente é: uma forma cruel e inaceitável de violência", conclui a especialista, clamando por uma mudança de olhar que possa, enfim, trazer luz à sombra do stalking e segurança para suas vítimas.





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