Publicado em: 25/03/2025
Austrália: um santuário evolutivo sob ameaça — por que sua fauna única precisa de atenção global?
Isolamento de milhões de anos criou espécies extraordinárias, mas mudanças climáticas e ação humana pressionam esse frágil equilíbrio
A Austrália abriga um dos ecossistemas mais singulares do planeta: 80% de seus mamíferos, 95% dos répteis e 90% dos invertebrados não existem em nenhum outro lugar da Terra. Cangurus, coalas, ornitorrincos e demônios-da-Tasmânia são frutos de uma história geológica única, marcada por 55 milhões de anos de isolamento após o continente se separar de Gondwana. Esse "laboratório natural", porém, enfrenta riscos crescentes — de incêndios florestais a espécies invasoras — que ameaçam sua biodiversidade irreplicável.
Há 40 milhões de anos, a Austrália tornou-se uma massa de terra isolada, permitindo que espécies como os marsupiais (mamíferos com bolsas) evoluíssem sem competição de placentários, dominantes em outros continentes. O resultado? Adaptações extraordinárias: coalas sobrevivem com folhas tóxicas de eucalipto, e ornitorrincos, mamíferos que botam ovos, desenvolveram sensores elétricos para caçar sob a água.
Apesar do mito de ser "o país mais perigoso do mundo", apenas 65% das cobras australianas são venenosas (contra 15% globalmente). O risco real, porém, está na fragilidade dessas espécies: 86% da fauna endêmica já sofre com habitat reduzido, segundo a Australian Conservation Foundation. Os recentes megaincêndios (2019-2020), agravados pelo aquecimento global, mataram ou deslocaram 3 bilhões de animais, incluindo 60 mil coalas, segundo o WWF.
Enquanto a Austrália luta para preservar seu patrimônio natural, desafios se multiplicam:
Espécies invasoras: coelhos e raposas, introduzidos por colonizadores, já extinguiram 34 mamíferos nativos desde 1788.
Crise climática: recifes de coral morrem com o branqueamento, e marsupiais como o petauro-do-açúcar perdem habitat para secas intensas.
Turismo predatório: ilhas como a de Rottnest, lar dos quokkas (os "animais mais felizes do mundo"), enfrentam estresse ambiental devido ao excesso de visitantes.
Projetos de conservação buscam reverter a curva:
"Rewilding Australia" reintroduz espécies extintas localmente, como o demônio-da-Tasmânia em áreas continentais.
Tecnologia indígena: comunidades aborígenes usam queimas controladas, herdadas de 60 mil anos de tradição, para prevenir incêndios.
A Austrália é um lembrete vivo de como a vida se adapta — e de como é frágil. Sua fauna excêntrica, produto de uma história cósmica, depende agora de escolhas humanas. Como alerta Michael Archer, paleontólogo: "Perder essas espécies não é só uma tragédia australiana. É apagar capítulos únicos do livro da vida na Terra."
Dica para viajantes: Respeite distâncias e habitats. Até o quokka, famoso por "sorrir" em selfies, pode sofrer estresse com interações excessivas.