"Black Friday" da cidadania italiana: O Mercado milionário no Brasil ameaçado - Pagenews

"Black Friday" da cidadania italiana: O Mercado milionário no Brasil ameaçado

Publicado em: 04/04/2025

"Black Friday" da cidadania italiana: O Mercado milionário no Brasil ameaçado
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Fim da "Black Friday" da cidadania italiana? Mercado milionário no Brasil sob ameaça
O governo italiano anunciou mudanças radicais nas regras para obtenção de cidadania por descendência, colocando em risco um mercado que movimenta milhões de reais no Brasil. O vice-primeiro-ministro Antonio Tajani, ao apresentar o decreto em 28/3, exibiu anúncios de empresas brasileiras que promoviam descontos e até uma "Black Friday" para serviços de cidadania. Com críticas duras — "ser cidadão italiano é algo sério", afirmou —, a nova legislação restringe o direito a descendentes com antepassados italianos até a segunda geração, excluindo milhões de brasileiros. A medida já está em vigor e promete profundas repercussões sociais e econômicas.


Queda de 90% na demanda e crise no setor
"Caímos de 200 processos mensais para 20. É um impacto devastador", relata Vagner Cardoso, fundador da Terra Nostra, uma das maiores assessorias do Brasil. Com mais de 100 funcionários, a empresa agora enfrenta a necessidade de "reinvenção", já que anúncios agressivos em redes sociais — antes criticados por Tajani como "banalização da nacionalidade" — perderão relevância. O setor, que faturava até R$ 25 mil por cliente, vê seu modelo de negócios desmoronar. Para Cardoso, as críticas ignoram a realidade: "É um serviço essencial para quem tem direito legal à cidadania".


Brasileiros na fila: sonhos adiados
Juliana Trevisanuto, paulista há quatro anos aguardando atendimento no consulado italiano em São Paulo, simboliza o drama de milhares. "Descobrir minhas raízes me abriu perspectivas de estudo e trabalho na Europa. Agora, tudo está incerto", desabafa. Entre 1870 e 1920, 1,4 milhão de italianos migraram para o Brasil, gerando uma comunidade de mais de 30 milhões de descendentes — 20 milhões só em São Paulo. Até 2023, cerca de 730 mil brasileiros haviam conquistado a cidadania, mas o novo decreto bloqueia acesso para gerações mais distantes.


Dados revelam corrida global por passaportes europeus
Os números ilustram a dimensão do fenômeno: na Argentina, os reconhecimentos saltaram de 20 mil (2023) para 30 mil (2024). No Brasil, subiram de 14 mil para 20 mil no mesmo período. Segundo a UE, brasileiros foram a 4ª nacionalidade não europeia a obter mais cidadania em 2023, atrás de sírios, marroquinos e venezuelanos. Do total, 44% conquistaram o passaporte pela Itália, reflexo de uma diáspora que elevou o número de cidadãos italianos no exterior de 4,6 milhões (2014) para 6,4 milhões (2024) — crescimento de 40% em uma década.


Custo alto e novas exigências: o que muda na prática
Além de limitar a elegibilidade, o decreto impõe a manutenção de "vínculos reais" com a Itália. Quem nascer no exterior precisará exercer direitos cívicos — como votar — ao menos uma vez a cada 25 anos. A regra, ainda não detalhada, ameaça até quem já tem o passaporte. Enquanto isso, o Parlamento italiano, dominado pela coalizão da premiê Giorgia Meloni, tem dois meses para regulamentar a lei, com pouca expectativa de flexibilização.


"A Itália é incompetente", acusam empresas brasileiras
O setor critica a falta de estrutura consular: "Prestamos esse serviço porque a Itália não consegue processar demandas", afirma Cardoso. Até 2023, os descendentes podiam optar por três vias: processos administrativos (no consulado ou na Itália) ou judiciais. Agora, as restrições obrigam muitos a abandonar o sonho do passaporte. Para Meloni, a medida visa "proteger a identidade nacional", mas para milhões de latino-americanos, significa o fim de uma ponte histórica — e lucrativa — entre continentes.

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