Publicado em: 16/03/2025
Diplomacia de Trump ameaça hegemonia dos EUA na indústria de defesa e impulsiona rivalidade europeia
A postura agressiva de Donald Trump na política externa começa a corroer a liderança histórica dos EUA no mercado global de armamentos. Canadá e Portugal — aliados tradicionais — anunciaram revisão de contratos bilionários com a Lockheed Martin para aquisição dos caças F-35, símbolo da supremacia tecnológica americana. A mudança ocorre em um momento crítico: as exportações de defesa dos EUA caíram 7% em 2023 (SIPRI), enquanto a Europa avança com um plano de €5 trilhões para reduzir dependência militar de Washington até 2035.
Canadá: O país, que opera 89 F-18 Hornets obsoletos, havia aprovado em 2022 a compra de 88 F-35 (R$ 80 bi), mas agora reconsidera a decisão após anos de tensões com Trump, que sugeriu anexar o território canadense.
Portugal: Com 34 F-16 ultrapassados, Lisboa abandonou o F-35, citando "mudanças geopolíticas". O movimento reflete mal-estar com a aproximação de Trump a Putin e o isolamento da Ucrânia.
A França, liderada por Emmanuel Macron, capitaliza o desgaste: oferece o caça Rafale (4.5ª geração) e o sistema antiaéreo SAMP/T como alternativas "europeizadas". A estratégia já rendeu contratos na Croácia e Grécia, e mira agora Alemanha — que comprou 35 F-35 em 2022, mas enfrenta pressão interna para priorizar o Eurofighter.
O F-35 representa 27% da receita da Lockheed Martin (2023), e a perda de clientes da OTAN ameaça um projeto que já consumiu US$ 1,7 trilhão. Enquanto isso, a Dassault (fabricante do Rafale) registrou crescimento de 18% nas vendas em 2024, impulsionada pela busca por opções não americanas.
Dados críticos:
62% dos países da OTAN revisaram políticas de aquisição em 2024, temendo instabilidade nas relações com os EUA (Atlantic Council).
A UE destinou €210 bilhões para desenvolvimento conjunto de armas em 2024, contra €130 bi em 2022 (Comissão Europeia).
Macron tenta vender não apenas armas, mas autonomia: propõe estender o "guarda-chuva nuclear" francês a aliados, desafio direto à hegemonia americana na OTAN. No entanto, especialistas alertam que a Europa ainda depende dos EUA para 78% de sua capacidade defensiva (RAND Corporation, 2024).
Para o Brasil, que optou pelo Gripen sueco em 2013, o cenário reforça a importância de diversificação. Enquanto isso, a indústria bélica americana enfrenta um dilema: adaptar-se a um mundo multipolar ou ver seu domínio definhar junto com a diplomacia trumpista.