Publicado em: 30/03/2025
Epilepsia: Uma Crise Global com Impactos Individuais e Coletivos
A epilepsia afeta aproximadamente 65 milhões de pessoas no mundo, segundo a Liga Brasileira de Epilepsia (LBE), configurando-se como uma das condições neurológicas mais prevalentes. Caracterizada por descargas elétricas anormais no cérebro, a doença pode surgir de causas variadas: genética, traumatismos cranianos, tumores ou infecções. No Brasil, estima-se que 3 milhões de pessoas vivam com epilepsia, muitas enfrentando diagnósticos tardios e barreiras ao tratamento adequado.
Desafios no Diagnóstico e Acesso à Saúde: O Caso de Sabrina
Sabrina Leonarda Fideles Chaves, 29 anos, estudante, teve sua primeira crise aos 27 anos. Após dois meses de incertezas e múltiplas visitas a prontos-socorros do SUS sem respostas, seu diagnóstico veio apenas na rede privada: epilepsia de difícil controle. “Os medicamentos só aumentam, mas as crises persistem”, relata. Sua jornada reflete um cenário comum: 40% dos casos de epilepsia no Brasil são diagnosticados tardiamente, segundo a LBE (2023). A falta de acesso a neurologistas no SUS — apenas 1 especialista para cada 34 mil habitantes — agrava a situação, deixando pacientes à mercê de tratamentos fragmentados.
Tratamento Personalizado: A História de Superação de Erick
Erick Medeiros Cruz, 27 anos, geógrafo e professor de forró, teve a primeira crise aos 7 anos, mas só recebeu diagnóstico aos 25, após uma convulsão generalizada desencadeada por luzes estroboscópicas. Seu caso ilustra a importância de abordagens individualizadas: com a medicação levetiracetam (1.000 mg/dia), ajustada para sua rotina agitada e comorbidades, Erick controla crises focais e de ausência. “A escolha do remédio considerou interações com outros tratamentos”, explica. Apesar dos avanços, 30% dos pacientes têm epilepsia refratária (não respondem a medicamentos), demandando terapias como neuroestimulação ou dieta cetogênica.
Impactos Socioeconômicos: Estigma e Exclusão
Sabrina precisou abandonar o emprego devido às crises não controladas, um reflexo de um problema estrutural: 60% das pessoas com epilepsia enfrentam desemprego ou subemprego no Brasil, conforme a ABE (2024). O estigma persiste — 7 em cada 10 pacientes relatam discriminação em ambientes sociais ou profissionais. Erick, porém, adaptou-se: usa óculos escuros para minimizar a fotossensibilidade durante aulas de dança, mostrando que ajustes simples podem promover inclusão.
A Urgência de Políticas Públicas e Educação
A neurologista Taissa Ferrari Marinho, secretária-geral da LBE, destaca que a falta de conhecimento sobre epilepsia alimenta preconceitos. “Ensino sobre primeiros socorros em crises convulsivas é raro, mesmo entre profissionais de saúde”, alerta. Dados do Ministério da Saúde (2023) revelam que 80% dos municípios brasileiros não oferecem treinamento sobre o Protocolo CALMA, que orienta:
Colocar a pessoa de lado para evitar sufocamento;
Apoiar a cabeça com algo macio;
Afastar objetos perigosos;
Monitorar o tempo da crise (acima de 5 minutos, acionar o SAMU);
Acompanhar até a recuperação total.
Inovação e Esperança: O Caminho para a Qualidade de Vida
Embora 70% dos casos possam ser controlados com medicação, apenas 50% dos pacientes em países de baixa renda têm acesso a anticonvulsivantes, segundo a OMS (2024). No Brasil, a LBE pressiona por:
Expansão de centros especializados no SUS;
Campanhas de conscientização em escolas e empresas;
Investimento em pesquisas para novas terapias, como canabidiol e inteligência artificial para prever crises.
Conclusão: Entre Avanços e Desigualdades
A epilepsia não é apenas uma condição médica, mas um desafio social. Enquanto pacientes como Erick demonstram que a vida plena é possível com tratamento adequado, histórias como a de Sabrina expõem falhas sistêmicas. A urgência está em transformar conhecimento em ação: garantir diagnósticos ágeis, tratamentos acessíveis e uma sociedade informada para romper ciclos de exclusão. Como afirma Taissa Marinho: “A epilepsia exige mais do que remédios — exige empatia”.