Publicado em: 06/04/2025
Londres transforma crise do lixo orgânico em solução energética: ônibus movidos a borra de café
Na capital britânica, onde 9,5 milhões de habitantes geram 883 mil toneladas de resíduos orgânicos anualmente (dados de 2023), uma inovação surge como resposta urgente à pressão climática: desde 2017, parte da frota de ônibus londrinos roda com biocombustível feito de borra de café. A iniciativa, que já reaproveitou 50 mil toneladas de resíduos, é um exemplo de como cidades globais podem enfrentar a dupla crise do desperdício e das emissões poluentes.
Do descarte à energia: como o café abastece os ônibus
Em parceria com a Bio-bean, Shell e Transport for London (TfL), o processo converte resíduos de 8.000 estabelecimentos comerciais em combustível:
Coleta seletiva: Cafeterias, restaurantes e escritórios destinam a borra a centros especializados;
Extração de óleo: Cada tonelada de borra rende 200 litros de óleo, após desidratação e processamento;
Produção do B20: O biocombustível (20% renovável) reduz emissões de CO₂ em 10% por litro, sem adaptar motores.
Apesar do avanço, especialistas ressaltam que o B20 ainda depende de 80% de diesel fóssil — limite que precisa ser superado para cumprir metas climáticas.
Por que o café virou prioridade energética em Londres?
Com a meta de zerar emissões líquidas até 2030, a cidade enfrenta um dilema: o transporte público responde por 23% das emissões urbanas (Greater London Authority, 2024). O biocombustível de café oferece uma solução imediata para:
Reduzir 6,8 milhões de toneladas de lixo orgânico/ano, cujo descarte inadequado gera metano (gás 28x mais poluente que o CO₂);
Diminuir a importação de diesel, que custou £1,2 bilhão ao governo em 2023;
Engajar a população: 72% dos londrinos apoiam iniciativas de economia circular, segundo pesquisa da YouGov.
Impactos e curiosidades: além do combustível
A cada dia, um ônibus movido a café consome resíduos equivalentes a 2.000 xícaras — volume que evitaria o descarte de 1,2 toneladas diárias em aterros. A Bio-bean expandiu o projeto para incluir óleos vegetais usados, ampliando a capacidade em 40% desde 2022. Contudo, críticos apontam que a iniciativa atende apenas 5% da frota, revelando a escala do desafio.
Um modelo replicável? Lições e limites
Enquanto Paris e Berlim estudam projetos similares, Londres destaca obstáculos: a coleta seletiva de resíduos orgânicos atinge apenas 32% dos domicílios. Para a ONU, iniciativas como essa são "passos críticos, porém insuficientes" diante da necessidade de reduzir 43% das emissões globais até 2030. A mensagem é clara: transformar xícaras de café em combustível é inovador, mas exige políticas integradas para virar regra, não exceção.