Publicado em: 26/03/2025
Visita Histórica em Meio a Desafios Globais
Em um cenário internacional tensionado por crises climáticas, polarizações geopolíticas e pressões econômicas, a visita de Estado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da primeira-dama Janja da Silva ao Japão carregou peso simbólico e urgência estratégica. Recebidos pelo imperador Naruhito e pela imperatriz Masako no Palácio Imperial de Tóquio, o casal brasileiro testemunhou gestos protocolares incomuns, como o uso do português pelo monarca para dizer “por favor” ao convidar Lula a adentrar o local — detalhe repetido no banquete noturno, sinalizando uma ponte cultural rara. Trata-se da primeira visita de Estado ao país asiático desde 2019, quando Donald Trump esteve lá, e ocorre em um momento crítico de reconstrução de alianças pós-pandemia, com o Brasil buscando posicionar-se como mediador em agendas globais, como a crise climática.
Diálogo Estratégico e Pressões Climáticas
No banquete imperial, Lula reforçou a parceria bilateral, classificando Brasil e Japão como “aliados estratégicos” unidos por “valores como democracia e multilateralismo”. O presidente destacou a COP30, conferência do clima que o país sediará em 2025 em Belém, e cobrou o “firme engajamento” japonês — um recado direto a uma nação que ainda depende de 73% de combustíveis fósseis em sua matriz energética, segundo dados de 2023. Naruhito, por sua vez, evocou a memória de sua primeira viagem ao Brasil em 1982, durante o governo Figueiredo, e encontros com Lula em 2008, quando era príncipe herdeiro. A narrativa resgatou laços históricos, como a imigração japonesa que trouxe mais de 250 mil pessoas ao Brasil no século XX, mas também expôs desafios atuais, como a necessidade de renovar acordos comerciais em setores como tecnologia verde e infraestrutura.
Inovações Protocolares e Gestos de Proximidade
A imperatriz Masako surpreendeu ao elogiar publicamente as iniciativas de Janja pelos direitos das mulheres, um tema sensível no Japão, onde apenas 10% dos cargos parlamentares são ocupados por mulheres. O cerimonial incluiu rupturas simbólicas: “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga, foi executada por uma banda japonesa — algo inédito em visitas de Estado, que tradicionalmente priorizam hinos nacionais. O código de vestimenta também foi flexibilizado para “roupas civis”, atendendo a um pedido da delegação brasileira, e a princesa Aiko, filha do casal imperial, fez sua estreia em eventos oficiais, em um gesto que contrasta com debates internos sobre o papel das mulheres na sucessão do trono, ainda restrito a homens.
Honrarias e Tensões Não Declaradas
Na troca de condecorações, Lula recebeu o Grande Cordão da Suprema Ordem do Crisântemo, honraria máxima japonesa, enquanto Janja foi agraciada com o Grande Cordão da Ordem do Tesouro Sagrado. Presentes como a porcelana ruri e a bolsa Saga-Nishiki reforçaram a dimensão cultural do encontro. Por trás da cortesia, porém, há questões não ditas: o Japão busca diversificar parcerias diante da ascensão chinesa, enquanto o Brasil tenta atrair investimentos para cumprir metas ambientais. Com a COP30 no horizonte, a reaproximação bilateral não é apenas um ritual diplomático, mas um passo necessário em um mundo onde cooperação internacional define quem sobreviverá às crises do século XXI.