Publicado em: 23/03/2025
Alergia rara pós-Covid transforma vida de jovem em luta diária contra o frio
A britânica Hanna Newman, 27 anos, enfrenta um desafio invisível e perigoso desde que contraiu Covid-19: uma reação alérgica extrema ao frio, conhecida como urticária ao frio, que quase a matou após consumir um sorvete do McDonald’s em Brighton, Inglaterra. Seu caso, raro e devastador, expõe as sequelas imprevisíveis da pandemia e a luta por tratamentos caros e acessíveis.
Em dezembro de 2020, Hanna começou a apresentar urticaria e inchaço facial após contato com alimentos gelados. Os sintomas evoluíram para edema de glote — fechamento da garganta que impede a respiração —, exigindo uso emergencial de adrenalina. Hoje, até abrir a geladeira ou suar podem desencadear crises. "Pensei que morreria ali, no chão do restaurante", relata.
A condição, diagnosticada como urticária ao frio adquirida, afeta apenas 0,05% da população global, segundo a Organização Mundial de Alergia (2024). Em 15% dos casos, como o de Hanna, está ligada a infecções virais, incluindo Covid-19.
Hanna aguarda aprovação do NHS (sistema público de saúde britânico) para iniciar tratamento com Omalizumabe, medicamento que bloqueia anticorpos responsáveis pela alergia. Cada dose custa cerca de £7 mil (R$ 45 mil). Enquanto isso, sua vida se restringe a ambientes termicamente controlados: evitou sorvetes, milk-shakes e até exercícios ao ar livre no inverno.
Dados da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) revelam que, no Brasil, apenas 12% dos pacientes com doenças raras têm acesso a tratamentos de alto custo via SUS — realidade que espelha a batalha de Hanna no Reino Unido.
Para manter uma rotina segura, Hanna substituiu atividades externas por ioga e dança em casa. "Antes, trabalhava com crianças, cheia de energia. Agora, vivo em alerta", desabafa. Seu caso ilustra um fenômeno crescente: 20% dos pacientes pós-Covid desenvolvem alergias ou doenças autoimunes, segundo estudo da Universidade de Harvard (2023).
Enquanto governos subestimam os impactos de longo prazo da Covid-19, histórias como a de Hanna revelam uma crise de saúde subjacente. "Doenças raras pós-virais exigem políticas públicas urgentes", defende Dra. Luísa Torres, imunologista. Para Hanna, a esperança está na ciência: "Quero voltar a viver sem medo de um simples sorvete".
Sua jornada é um lembrete de que, para milhões, a pandemia não acabou — apenas mudou de forma.