Publicado em: 17/03/2025
Estátua da Liberdade em Xeque: Críticas à Política Externa dos EUA Acendem Debate sobre Valores Democráticos
Neste domingo (16), o eurodeputado francês Raphaël Glucksmann provocou um terremoto geopolítico ao sugerir que os Estados Unidos devolvessem a Estátua da Liberdade, símbolo histórico da aliança entre as duas nações. O monumento, presenteado pela França em 1886 para celebrar os ideais de liberdade e democracia, tornou-se o centro de um debate acirrado sobre a atual postura norte-americana em cenários críticos, como a guerra na Ucrânia e o cerceamento à liberdade científica.
A declaração de Glucksmann, feita durante uma convenção do movimento Place Publique, reflete uma frustração crescente na Europa com as políticas da administração Trump. Desde o início de 2023, o governo norte-americano reduziu em 64% o apoio militar à Ucrânia, segundo dados do Kiel Institute, enquanto aproximações diplomáticas com o Kremlin ganharam força – incluindo o congelamento de sanções a oligarcas russos ligados a Vladimir Putin. “Se os EUA escolhem ficar ao lado de tiranos, que nos devolvam o símbolo que os tornou grandes”, desafiou o parlamentar, citado pelo Le Monde.
A crítica não se limita à geopolítica. Glucksmann destacou o desmonte de instituições públicas nos EUA: só em 2024, mais de 1.200 pesquisadores de áreas como saúde pública e clima foram demitidos ou pressionados a se afastar, segundo o Union of Concerned Scientists. Entre os casos emblemáticos está a saída forçada de Dr. Anthony Fauci, ex-diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, após pressões por suas pesquisas sobre pandemias. “Se querem descartar quem os tornou potência científica, daremos as boas-vindas a essas mentes aqui”, afirmou o eurodeputado, em referência à fuga de cérebros para a Europa, que recebeu 18% mais cientistas norte-americanos em 2023, conforme a OCDE.
A provocação sobre a Estátua da Liberdade, ainda que simbólica, expõe uma crise de credibilidade global. Para a França, que investiu € 2,3 bilhões em ajuda à Ucrânia em 2024 – o triplo dos EUA proporcionalmente ao PIB –, a postura de Washington sinaliza um abandono de princípios que uniram o Ocidente pós-Segunda Guerra. “Não se trata apenas de um monumento, mas do que ele representa: liberdade de pensamento, cooperação e resistência à opressão”, lembrou Glucksmann, cujo discurso viralizou, atingindo 5,8 milhões de visualizações em redes sociais em 24 horas.
A Casa Branca não comentou oficialmente, mas analistas veem riscos. “Isso alimenta a narrativa de que os EUA estão se isolando, enquanto a Europa assume a liderança na defesa da democracia”, avalia Anne-Marie Slaughter, ex-diretora de Planejamento do Departamento de Estado. O momento é delicado: em meio a eleições europeias polarizadas, onde partidos de extrema-direita pró-Putin ganham força, gestos como o de Glucksmann reforçam a urgência de um reposicionamento ético – com ou sem a Estátua da Liberdade.
O que está em jogo? Mais que uma disputa retórica, o debate reflete um divisor de águas: até que ponto os valores que moldaram o século XX ainda guiarão as potências no século XXI? Enquanto a Europa tenta reafirmar seu papel, os EUA enfrentam uma encruzilhada histórica – e o mundo observa.