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Rússia e Ucrânia firmam frágil cessar-fogo no mar Negro

Publicado em: 25/03/2025

Rússia e Ucrânia firmam frágil cessar-fogo no mar Negro
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Rússia e Ucrânia firmam frágil cessar-fogo no mar Negro: entenda os riscos e os desafios
Pela primeira vez desde o início da invasão russa em fevereiro de 2022, Rússia e Ucrânia assinaram um cessar-fogo parcial por escrito, mediado pelos Estados Unidos, focando no mar Negro. O acordo, anunciado nesta quarta (25), busca estabilizar uma região estratégica para exportações e segurança energética, mas já nasce sob desconfiança mútua. Enquanto Kiev e Moscou confirmaram a trégua, diferenças nos termos revelam tensões latentes: a Ucrânia aceitou suspender ataques a infraestruturas energéticas russas, e o Kremlin exigiu a retirada de sanções ocidentais para retomar exportações na área.


Detalhes do acordo: avanço tímido em meio a desgaste militar
O texto, publicado pela Casa Branca, prevê "navegação segura" e proíbe o uso de navios comerciais para fins militares no mar Negro. A Ucrânia destacou a necessidade de repatriar crianças deportadas e realizar trocas de prisioneiros, enquanto a Rússia enfatizou a retomada de exportações – vital para sua economia, já que o mar Negro conecta-se ao Mediterrâneo. Apesar do otimismo inicial, o histórico é preocupante: um cessar-fogo de 30 dias em 2023, focado em infraestrutura energética, foi amplamente ignorado por ambos os lados.


O papel dos EUA e a sombra de Trump
A mediação americana, liderada por Donald Trump, marcou uma guinada na política externa dos EUA, que passou a negociar diretamente com Moscou, desconsiderando parte da estratégia europeia. Trump defendeu a inclusão de países europeus em futuras discussões sobre sanções, mas rejeitou propostas como uma "força de paz da Otan" – ideia vetada por Putin. Enquanto isso, a Ucrânia alerta para a falta de mecanismos claros para punir violações, e a Rússia condiciona avanços ao fim de restrições econômicas.


Contexto geopolítico: ONU, BRICS e o quebra-cabeça diplomático
Pela primeira vez, a Rússia sugeriu a entrada da ONU e de "países específicos" nas negociações, sinalizando possibilidade de ampliar o diálogo. A menção aos BRICS (com destaque para Brasil, China e África do Sul) ressurge após Putin elogiar iniciativas de paz do bloco, embora propostas anteriores, como a cúpula liderada por China e Brasil em 2023, tenham esbarrado na desconfiança ocidental. Enquanto isso, a UE mantém sanções duras, e a Ucrânia enfrenta dificuldades militares: 78 drones russos foram abatidos em 24 horas, mas os ataques a portos persistem.


Mar Negro: entre a economia e a guerra
A região é vital para Kiev, que perdeu 70% de sua Marinha e depende de rotas próximas à Romênia e Bulgária (membros da Otan) para exportar grãos. Já a Rússia, que bombardeou portos ucranianos após abandonar o acordo de grãos mediado pela Turquia em 2023, vê no cessar-fogo uma chance de escoar petróleo e fertilizantes. Apesar disso, o risco de ataques com mísseis Kalibr – lançados de navios russos no leste do mar Negro – permanece, já que o acordo não proíbe explicitamente seu uso.


O futuro incerto: entre a paz e a escalada
Analistas alertam que o cessar-fogo é um passo frágil, não um caminho para resolução do conflito. Enquanto Putin busca consolidar o controle sobre territórios anexados, a Ucrânia luta por apoio militar ocidental, cada vez mais escasso. A inclusão de novos atores, como BRICS ou ONU, pode complicar as tratativas, mas reflete o esgotamento do modelo atual. Com 15 mil mortes civis registradas desde 2022 (ONU, 2024), a trégua no mar Negro é um alívio temporário – mas a guerra, que já deslocou 12 milhões de pessoas, segue sem horizonte de paz.

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