Publicado em: 23/05/2025
Informações: FolhaPress
Brasília, DF- A possibilidade de sanções americanas contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), acende um alerta em Brasília, com auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva avaliando a situação como um ataque institucional direto dos Estados Unidos contra o Brasil. O cenário é complexo, e a equipe de Lula se divide sobre a melhor estratégia de reação.
As eventuais punições do governo de Donald Trump (caso ele retorne à presidência dos EUA) contra Moraes não são novidade no radar político, mas ganharam força após a declaração do Secretário de Estado, Marco Rubio, na última quarta-feira (21 de maio). Rubio afirmou que há uma "grande possibilidade" de medidas do tipo serem adotadas, elevando a tensão diplomática. A fala de Rubio, considerado o chefe da diplomacia americana em uma eventual futura gestão Trump, foi interpretada por aliados de Lula como uma interferência direta dos Estados Unidos em um assunto interno e soberano do Brasil. O peso da declaração reside no fato de que sanções contra uma autoridade do Judiciário de um país aliado seriam um movimento diplomático e político de grande impacto.
Diante da ameaça, o Palácio do Planalto e o Itamaraty se veem em um dilema. Uma ala de ministros e assessores defende a prudência e a não reação imediata a provocações retóricas. O argumento é que uma manifestação oficial do governo Lula neste momento seria jogar o jogo da oposição bolsonarista.
Lideranças ligadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro têm estimulado ativamente autoridades americanas a adotar medidas contra o STF, com o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) chegando a licenciar-se do mandato para se mudar para os EUA e defender publicamente essas punições. Responder à retórica de Rubio, nesse sentido, poderia dar mais visibilidade e legitimidade a essa campanha.
Além disso, integrantes dessa ala ponderam que o tabuleiro geopolítico atual é altamente complexo. O Brasil, por exemplo, já abriu negociações com Washington para tentar suavizar os impactos do tarifaço imposto por Trump em setores importantes da economia brasileira, como o do aço. Entrar em choque diplomático direto com uma futura gestão Trump poderia comprometer esses e outros interesses estratégicos do país.
A corrente que defende a cautela acredita que o melhor caminho seria tentar despolitizar a relação bilateral, evitando atritos desnecessários e focando nos interesses econômicos e diplomáticos mútuos. A ideia é só se envolver diretamente na disputa caso alguma medida de sanção seja efetivamente adotada contra o ministro Moraes.
Por outro lado, a eventual imposição de sanções contra um membro do Poder Judiciário brasileiro levanta sérias questões sobre a soberania nacional e a autonomia das instituições. A inação, para alguns, poderia ser interpretada como uma fraqueza ou uma aceitação de interferências externas em assuntos internos.
A situação coloca o governo Lula em uma encruzilhada diplomática, onde cada passo precisa ser cuidadosamente calculado para defender os interesses do Brasil sem escalar tensões de forma contraproducente. O cenário político nos Estados Unidos, com a proximidade das eleições, adiciona ainda mais incerteza a essa equação.