Ironia: Milei exalta sonegadores e questiona mérito de quem paga impostos

Milei exalta sonegadores e questiona mérito de quem paga impostos

Em uma declaração polêmica que gerou forte repercussão na Argentina, o presidente Javier Milei elogiou abertamente aqueles que sonegam impostos e insinuou que aos que cumprem suas obrigações fiscais falta talento ou coragem. As falas ocorreram durante entrevista ao jornalista Antonio Laje no programa "Otra Mañana", do canal A24, na última segunda-feira (19). O presidente afirmou que os sonegadores são “astutos” e que o termo "contribuinte" é, segundo ele, "ofensivo".

"Talvez falte talento a quem paga impostos"

Durante a conversa, Milei argumentou que os que pagam seus impostos não demonstraram habilidade suficiente para escapar do sistema. “Sinto muito por aquele que não pôde escapar, mas o outro [o sonegador] não fez nada de errado. É uma declaração de inveja. Aquele que conseguiu escapar, ótimo, não posso puni-lo porque ele conseguiu fugir do ladrão [o Estado]”, declarou.

A fala levanta um debate profundo sobre a visão do chefe de Estado em relação ao papel do governo e ao funcionamento do sistema tributário. Ao sugerir que a sonegação deve ser vista como uma virtude, Milei afirmou que “se todos tivessem conseguido fazer a mesma coisa, talvez os políticos tivessem parado de nos roubar”.

Visão econômica acima da legalidade

Ao ser criticado, Milei rebateu dizendo que as questões econômicas devem ser tratadas sob uma ótica econômica e não legal. Isso levanta preocupações sobre a forma como o governo atual encara o cumprimento das leis fiscais e o combate à corrupção. “Eu tenho de recompensar aquele que ficou na prisão porque há alguém que conseguiu sair do cárcere que os políticos nos impõem?”, questionou.

Comparação com fuga de regimes autoritários

O presidente também comparou os sonegadores a cubanos que fogem do regime castrista para os Estados Unidos, argumentando que ambos estariam escapando de sistemas opressores. A analogia aprofunda ainda mais a controvérsia, ao colocar o sistema tributário argentino como um mecanismo de repressão.

Contexto e impacto

As declarações de Milei ocorrem em um momento em que a Argentina enfrenta graves desafios econômicos, com uma inflação anual que ultrapassa 250% e uma população cada vez mais pressionada por medidas de austeridade. Em vez de estimular o fortalecimento institucional e o respeito às leis, o presidente reforça uma retórica que legitima práticas ilegais como estratégias de sobrevivência ou inteligência econômica.

A fala presidencial não apenas deslegitima o esforço dos que contribuem com o Estado, como também mina o já frágil pacto social argentino. Num país onde a confiança nas instituições é historicamente baixa, o incentivo velado à sonegação pode aprofundar ainda mais o desmonte do Estado e a desigualdade fiscal.