Tarcísio elogia urnas eletrônicas e gera crise no bolsonarismo - Pagenews

Tarcísio elogia urnas eletrônicas e gera crise no bolsonarismo

Publicado em: 23/03/2025

Tarcísio elogia urnas eletrônicas e gera crise no bolsonarismo
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Tarcísio elogia urnas eletrônicas e gera crise no bolsonarismo: uma divisão que reflete a encruzilhada da direita
Um discurso do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), em defesa das urnas eletrônicas e da Justiça Eleitoral, durante evento no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), reacendeu tensões no núcleo duro do bolsonarismo. A fala, ocorrida na quinta-feira (20), contrasta com sua participação dias antes em um ato pró-anistia aos presos do 8 de Janeiro, convocado por Jair Bolsonaro (PL) — e expõe a delicada dança política de Tarcísio entre lealdades partidárias e ambições nacionais.


O gatilho da crise: elogios à democracia institucional


Em meio a presidentes de Tribunais Regionais Eleitorais, Tarcísio destacou: "O Brasil se tornou referência em velocidade, tecnologia e transparência eleitoral. Muitos países devem olhar para nós". A mensagem, que incluiu agradecimentos à Justiça Eleitoral por "garantir a democracia", foi interpretada por aliados de Bolsonaro como um afronta às bandeiras históricas do grupo, que questiona a segurança das urnas e defende o "voto auditável".


A reação foi imediata. Parlamentares bolsonaristas na Assembleia Legislativa paulista relataram à imprensa frustração e desconfiança"Era esperado que ele mencionasse as falhas no sistema, não os elogiasse", criticou um deputado sob anonimato. Dados do Instituto Paraná Pesquisas (junho/2024) mostram que 62% dos eleitores de Bolsonaro ainda desconfiam das urnas — um sinal de que o tema permanece sensível.


Jogo duplo ou estratégia de sobrevivência?


A ambiguidade de Tarcísio reflete um cálculo político arriscado. No domingo anterior (16), ele participou de um ato no Rio ao lado de bolsonaristas, criticando a inelegibilidade de Bolsonaro — condenado pelo TSE por abuso de poder político e fake news eleitorais — e atacando o governo Lula: "A inflação é fruto da irresponsabilidade fiscal petista". A postura rendeu aplausos da base, mas, dias depois, sua defesa das instituições eleitorais reacendeu dúvidas sobre seu alinhamento.


Para analistas, a oscilação é estratégica. "Tarcísio busca ampliar seu apelo além do bolsonarismo, posicionando-se como um nome conciliador da direita", explica Clara Ramos, cientista política da FGV. Pesquisa Quaest (junho/2024) revela que 38% dos paulistas aprovam sua gestão, mas apenas 19% o veem como presidenciável — sinalizando que sua base ainda é regional.


O peso das consequências jurídicas e políticas


O timing do embate não é aleatório. Na terça-feira (25), a Primeira Turma do STF julgará se Bolsonaro vira réu por tentativa de golpe de Estado — um processo que pode levar à prisão do ex-presidente. Paralelamente, o PL pressiona por apoio unificado, enquanto o governador paulista sinaliza disposição de concorrer à Presidência em 2026 caso Bolsonaro permaneça inelegível.


O caso da bolsonarista Débora Rodrigues, acusada de invadir o STF e com pena proposta de 14 anos, ilustra a tensão. No ato do Rio, Tarcísio minimizou seu papel: "Usaram batom? Enquanto traficantes estão soltos...". A declaração, porém, não evitou cobranças internas por apoio mais veemente aos presos do 8 de Janeiro.


Democracia em risco ou realinhamento tático?


Enquanto redes bolsonaristas censuraram o discurso pró-urnas de Tarcísio, seu gesto de ligar para Bolsonaro no aniversário de 70 anos do ex-presidente (21/06) tenta reparar pontes. O dilema, porém, vai além da retórica: 75% dos brasileiros confiam nas urnas (Datafolha/2024), e a comunidade internacional, incluindo a ONU, reconhece a eficácia do sistema eleitoral brasileiro.


Para o eleitorado moderado, a defesa das instituições por Tarcísio pode ser um trunfo. Para o núcleo bolsonarista, é uma traição. "Essa divisão expõe a fragilidade de um movimento que ainda não se reconciliou com a democracia representativa", avalia o historiador Marcos Costa.


Enquanto o STF decide o futuro de Bolsonaro, Tarcísio caminha sobre um fio: equilibrar-se entre a lealdade a um líder enfraquecido e a busca por um projeto político sustentável. O preço desse equilíbrio, porém, pode definir não apenas seu futuro, mas o da própria direita brasileira.

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