Publicado em: 23/05/2025
Fortaleza, CE – O debate sobre o meio ambiente no Ceará ganha contornos de urgência diante de dados preocupantes. O estado registrou um aumento de 23,5% no desmatamento em 2024, um dado que acende o alerta e coloca a discussão sobre o impacto ambiental de novos empreendimentos no centro das atenções, como é o caso da proposta de construção de um data center do TikTok em uma região com histórico de seca.
O Ceará foi o quarto estado brasileiro com maior número de alertas de desmatamento em 2024, totalizando 5.594 notificações. O aumento de 23,5% em comparação ao ano anterior reflete uma média diária de 119,5 hectares desmatados no estado. Os municípios de Acopiara, Mombaça, Jucás, Araripe e Mauriti foram os que mais registraram áreas desmatadas.
Este cenário é preocupante, especialmente porque o bioma da Caatinga, predominante no Ceará, já perdeu aproximadamente 47% de sua vegetação original, com 13% em estágio avançado de desertificação. Embora o desmatamento da Mata Atlântica no Ceará tenha apresentado uma queda de 21% em 2024, o dado geral do estado ainda demanda atenção e ações coordenadas para a preservação ambiental. A Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) registrou 112 autuações por desmatamento em 2024, com multas que ultrapassam R$ 7 milhões, evidenciando a fiscalização, mas também a persistência do problema.
Em meio a esse contexto ambiental sensível, a discussão sobre a instalação de um mega data center da ByteDance, empresa controladora do TikTok, no Complexo Portuário do Pecém, no Ceará, tem gerado debates acalorados. A região, embora estratégica pela proximidade com cabos submarinos de fibra ótica e por sua crescente produção de energia renovável (especialmente hidrogênio verde), possui um histórico de escassez hídrica e secas prolongadas.
Data centers são conhecidos por seu alto consumo de energia e, principalmente, de água, utilizada para resfriar os supercomputadores que abrigam. Estimativas indicam que um data center de grande porte pode consumir milhões de litros de água diariamente, o equivalente ao consumo de uma cidade de 30 mil habitantes. A preocupação de ambientalistas e da população é que, mesmo que o projeto preveja o uso de poços tubulares profundos próprios, a demanda por água em uma região já vulnerável agrave a situação hídrica e possa impactar o abastecimento local.
Enquanto a ByteDance e o Governo do Ceará destacam os benefícios da instalação para a infraestrutura tecnológica do Brasil e a geração de empregos qualificados, a sociedade civil e especialistas em meio ambiente exigem transparência sobre o real consumo de água do projeto e que as comunidades afetadas sejam ouvidas. O debate reflete um dilema crescente: como equilibrar o avanço tecnológico e a demanda por infraestrutura digital com a preservação de recursos naturais vitais, especialmente em contextos climáticos sensíveis como o semiárido cearense.