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Ceará em risco de perder título de hub mundial de hidrogênio verde

Publicado em: 02/05/2025

Ceará em risco de perder título de hub mundial de hidrogênio verde
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Ceará em risco de perder título de hub mundial de hidrogênio verde: infraestrutura elétrica ameaça bilhões em investimentos
O Ceará enfrenta uma crise crítica em seu ambicioso projeto de se tornar o principal polo global de hidrogênio verde (H₂V). Francisco Habib, diretor da Casa dos Ventos, alerta que os atrasos nas linhas de transmissão e as negativas do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para conectar projetos ao Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp) podem inviabilizar investimentos de US24bilho~es(R 136 bilhões) já sinalizados. A região, que concentra 80 mil empregos diretos e indiretos, corre o risco de ver empresas migrarem para outros países se a infraestrutura não for urgentemente modernizada.


Infraestrutura elétrica: gargalo que paralisa o futuro verde
O Cipp, epicentro das plantas de H₂V no Brasil, carece de capacidade para suportar a demanda energética dos projetos. Habib explica que a conexão de cargas de 2 a 3 gigawatts (GW) — necessárias para eletrolisadores e data centers — exige linhas de transmissão que ainda não existem. O ONS admite que “não há rede disponível para atender, com segurança, os elevados montantes solicitados”, mas afirma trabalhar em “soluções estruturantes”. Enquanto isso, a Casa dos Ventos, a Voltalia e a Fortescue já tiveram projetos barrados na região, incluindo um data center pioneiro.


Governo do Ceará versus ONS: divergências sobre capacidade real
O Governo do Estado rebate o pessimismo, garantindo que o Cipp mantém sua posição estratégica e que a modernização da infraestrutura está em curso. A Secretaria da Casa Civil destaca que os pré-contratos assinados permitem decisões de investimento até 2027. No entanto, Habib contrapõe: “Se não resolvermos a conexão até 2026, os clientes buscarão outros países em 2030”. A urgência é clara: plantas de H₂V demandam até sete anos para entrarem em operação, e o planejamento começou em 2020, durante a pandemia.


Curtailment e apagões: o fantasma da intermitência energética
O problema vai além da infraestrutura física. Em agosto de 2023, uma falha no sistema de proteção causou um apagão nacional, ligado à intermitência de usinas eólicas e solares. Desde então, o ONS impôs limites (curtailment) à geração dessas fontes para evitar sobrecargas — uma medida que reduziu a capacidade operacional na região. Para Habib, isso reflete uma “falta de planejamento”: “O sistema não foi desenhado para cargas tão grandes, mas já se discute o hidrogênio verde há quatro anos”.


EPE contradiz ONS: estudo aponta margem para cargas no Nordeste
Um estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), divulgado em outubro de 2023, avalia que o Nordeste tem capacidade para receber projetos de H₂V e data centers. A análise inclui a subestação Pecém III, crucial para o Cipp, e afirma que o sistema atual suportaria até 1,5 GW de demanda imediata. Habib, porém, revela frustração: “A EPE diz que há margem, mas o ONS nega. Sem aprovação, os projetos não saem do papel”.


Subestação Pecém III: iniciativa privada tenta salvar o hub
Diante da inércia pública, a Casa dos Ventos e outras empresas planejam financiar a construção da subestação Pecém III, vital para escoar a energia dos novos empreendimentos. O projeto, localizado na Zona de Processamento de Exportação (ZPE), depende ainda de aval governamental. Habib ressalta que, sem essa obra, o Ceará perderá não apenas o hidrogênio verde, mas também a chance de liderar a revolução dos data centers alimentados por energia renovável — um setor que atrai gigantes da tecnologia global.


Consequências globais: a corrida pelo hidrogênio verde não espera
Enquanto o Brasil debate infraestrutura, países como Chile, Austrália e Marrocos avançam na produção de H₂V com incentivos fiscais e agilidade regulatória. O Ceará, que tem ventos favoráveis e sol constante, arrisca perder seu diferencial competitivo. “Se o cliente não receber amônia verde até 2030, irá para outro hub”, alerta Habib. O relógio corre: sem conexão elétrica até 2029, o sonho cearense de ser uma potência energética sustentável pode se tornar mais uma promessa não cumprida.

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