Fortaleza,
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Publicado em: 03/04/2025
Em meio a uma crise de preservação audiovisual alarmante no Brasil, a Netflix anunciou um aporte de R$ 5 milhões à Cinemateca Brasileira, instituição que enfrenta o desafio urgente de captar R$ 30 milhões para reformas estruturais em sua sede na Vila Clementino, zona sul de São Paulo. Este valor, destinado via Lei Rouanet, marca a primeira utilização deste mecanismo fiscal pela gigante do streaming, sinalizando uma mudança significativa em sua abordagem de responsabilidade cultural no país. "Esta iniciativa é um reconhecimento, por parte da Netflix, de uma corresponsabilidade. A Cinemateca tem parte de seu orçamento garantido pelo governo federal, mas tem necessidade de uma complementação via parcerias privadas. Estamos reconhecendo que temos papel nisso", afirma Mariana Polidoro, diretora de políticas públicas da Netflix.
O montante da Netflix complementa um esforço conjunto que já inclui R$ 1 milhão do Itaú Unibanco e R$ 10 milhões provenientes do BNDES. A direção da Cinemateca espera que esta exposição catalize outras empresas a contribuírem para a meta total, especialmente considerando o estado crítico das instalações. "Infelizmente a parte da preservação, no audiovisual, não é levada a sério. As pessoas acham que fazer cinema é pôr o filme na tela e acabou. Não, precisamos preservar a memória cinematográfica", alerta Maria Dora Mourão, diretora-geral da instituição, destacando uma realidade preocupante sobre a valorização do patrimônio cultural brasileiro.
Os fundos serão direcionados especificamente para a revitalização da sala Oscarito, que passará por transformações significativas incluindo reorganização espacial, sistema de projeção de última geração, novas poltronas, áudio Dolby Atmos e padrões de acessibilidade superiores aos exigidos pela legislação brasileira, usando como referência avançadas salas do Reino Unido. O processo de contratação para execução do projeto deverá iniciar assim que a metade dos R$ 30 milhões (cerca de R$ 15 milhões) for captada ainda em 2025. Os planos de restauração abrangem também intervenções críticas na fachada histórica da sede, adequações no saguão principal com sistema de climatização adequado e modernização essencial do centro de documentação.
O modelo de patrocínio segue os padrões da Cinemateca Francesa, não prevendo contrapartidas como direitos de nomeação ou influência sobre a programação cultural. Essa abordagem surge em um contexto de debates legislativos sobre a regulação de serviços de streaming estrangeiros no Brasil. Elisabetta Zenatti, vice-presidente de conteúdo da Netflix no Brasil, defende a iniciativa: "Ao valorizar o audiovisual, estamos inspirando novos criadores. Tudo o que podemos fazer pelo cinema brasileiro, nós fazemos. Tudo parte de um mesmo ecossistema, uma coisa retroalimenta a outra."
Detentora do maior acervo audiovisual da América do Sul, a Cinemateca Brasileira está vinculada ao Ministério da Cultura e atravessa um período de reconstrução após grave crise financeira e institucional. Durante o governo anterior, a instituição sofreu um processo de desmonte que culminou em 2022 com um devastador incêndio em um de seus galpões, resultado direto da falta de manutenção e recursos operacionais que impossibilitaram até mesmo o pagamento de funcionários essenciais para preservação do acervo histórico.