Sob as águas de Veneza: a livraria que desafia o mar e o tempo - Pagenews

Sob as águas de Veneza: a livraria que desafia o mar e o tempo

Publicado em: 28/04/2025

Sob as águas de Veneza: a livraria que desafia o mar e o tempo
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Veneza sob água: a livraria que desafia o mar e o tempo
No Dia Mundial do Livro (23 de abril), a Libreria Acqua Alta, em Veneza, chama atenção não só por sua beleza, mas por sua batalha contra inundações. Localizada a menos de 1 km da Piazza San Marco, em uma área baixa e vulnerável, a livraria guarda mais de 400 mil livros raros, incluindo edições centenárias. Em 2019, a cidade registrou a pior enchente desde 1966, com níveis d’água ultrapassando 2 metros. Na ocasião, centenas de livros se perderam, e prejuízos chegaram a milhares de euros.


Resiliência em gôndolas: a engenhosidade de Luigi Frizzo
Luigi Frizzo, 82 anos, fundou a Acqua Alta em 2002 sabendo dos riscos. Após a tragédia de 2019, reforçou a infraestrutura: livros são armazenados em banheiras, gôndolas e mesas elevadas. A escadaria feita de enciclopédias, hoje um ícone fotográfico, nasceu como solução prática. "Nunca imaginei que algo tão simples se tornaria símbolo global", reflete Frizzo. Apesar das adaptações, o aumento do nível do mar ameaça diariamente o acervo, que inclui pérolas como a primeira edição de Le Fiale (1903), avaliada em 1,5 mil euros.


Cultura vs. viralidade: o frágil equilíbrio de um patrimônio
A Acqua Alta personifica um paradoxo moderno: como preservar a integridade cultural enquanto se alimenta da exposição das redes sociais? A loja figura entre as "quatro mais fotogênicas do mundo", ao lado de gigantes como Shakespeare and Company (Paris), mas enfrenta críticas por priorizar o espetáculo. "Não somos as melhores, somos as mais fotografadas", admite Carrión. Ainda assim, 30% do faturamento vem de livros raros, como obras esgotadas do século XIX, enquanto o restante depende de souvenirs – um equilíbrio precário em uma cidade onde o turismo cresce 4% ao ano, pressionando infraestruturas históricas.


O legado de Frizzo: entre enciclopédias e algoritmos
Aos 82 anos, Frizzo testemunha a transformação de seu refúgio literário em fenômeno global. Enquanto Dominique, a gata residente, observa filas intermináveis, a escadaria de livros – antes solução emergencial – virou metáfora de uma era: bela, instável e efêmera. "Sobrevivemos porque nos adaptamos, não porque resistimos", diz Zanda. Em 2024, Veneza debate cobrar taxa de entrada para turistas, mas a Acqua Alta segue de portas abertas, lembrando que, mesmo em um mundo inundado por pixels, livros ainda podem ser âncoras – desde que estejam secos.

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