Publicado em: 30/03/2025
Boeing em Busca de Recuperação: Crise Histórica e Desafios Persistentes
Desde o ground global do 737 Max em março de 2019 — decisão tomada após dois acidentes fatais que mataram 346 pessoas —, a Boeing enfrenta uma das crises mais profundas de sua história. Seis anos depois, suas ações permanecem 50% abaixo do valor pré-2019, refletindo não apenas perdas financeiras, mas uma erosão sem precedentes na confiança de clientes e investidores.
Falhas Sistêmicas e Consequências Catastróficas
O colapso começou com a falha no software MCAS do 737 Max, mas logo se expandiu. Problemas de qualidade em linhas de produção, atrasos em projetos estratégicos (como o avião-tanque KC-46 e o novo Air Force One) e a perda de protagonismo para a SpaceX na corrida espacial agravaram a situação. A pandemia de Covid-19 e o fracasso na aquisição da divisão comercial da Embraer em 2020 — acordo resolvido apenas em 2023 após disputas judiciais — ampliaram a turbulência.
Mudança de Gestão e Priorização da Segurança
Com dois CEOs derrubados desde 2019, a Boeing tenta reerguer-se sob o comando de Kelly Ortberg, presidente desde agosto de 2024. Sua estratégia inclui revisão de processos, requalificação de 150 mil funcionários nos EUA e redução do ritmo de produção — mantido em 50 aviões mensais, contra 70 da Airbus. Em 2023, a empresa entregou apenas 348 aeronaves, o segundo pior desempenho desde os anos 1970.
Sinais de Alívio: Contratos Militares e Retomada de Pedidos
Apesar dos desafios, há indicativos de recuperação. Em fevereiro de 2024, a Boeing superou a Airbus em entregas (89 contra 65). Na área militar, vitórias polêmicas surgiram: o contrato de US$ 20 bilhões para o caça F-47, batizado em alusão a Donald Trump, e a expectativa de fechamento do projeto de caça naval com a Northrop Grumman. Na aviação comercial, pedidos recentes da Pegasus (200 Max), Malaysia Airlines (60 unidades) e Korean Air (50 wide-bodies) injetam otimismo.
Riscos Estruturais e Pressões Externas
Ainda assim, desafios persistem. O 777-9, previsto para 2020, só entrará em serviço em 2025 com a Lufthansa. Na defesa, rachaduras no KC-46 e a dependência de expertise adquirida na fusão com a McDonnell Douglas (1997) expõem vulnerabilidades. Tarifas comerciais sob o governo Trump ameaçam elevar custos, já que 40% da receita da Boeing (US$ 31 bilhões em defesa em 2023) dependem de cadeias globais.
Cautela no Processo de Reconstrução
A empresa evita triunfalismos. Em comunicado recente, reforçou: “Nosso foco é fortalecer segurança e qualidade, atendendo a padrões rigorosos”. Ortberg destacou em e-mail interno a prioridade em “mudar a cultura corporativa”, enquanto greves e retreinamentos sinalizam uma transformação lenta. Com 6.238 aviões encomendados (US$ 500 bilhões em potencial), a Boeing caminha para recuperar espaço, mas a sombra de 2019 ainda paira.