Publicado em: 26/03/2025
Crescimento econômico do Ceará em 2024: entre avanços e desafios estruturais
A economia cearense registrou crescimento de 6,49% em 2024, o maior em 14 anos, superando em quase o dobro a média nacional (3,4%). Impulsionado pelo agronegócio (+25,16%) e pela indústria (+10,65%), o desempenho reflete investimentos em atração de empresas, mas também expõe dependências críticas. Enquanto o governador Elmano de Freitas celebra o resultado como "fruto de trabalho estratégico", especialistas alertam: o modelo precisa enfrentar desigualdades sociais históricas, já que o estado ocupa o 15º lugar no IDH brasileiro (PNUD, 2023).
Agronegócio: motor do PIB com custos ambientais
O salto de 25% no agronegócio, puxado por fruticultura irrigada e carcinicultura, consolida o Ceará como maior exportador de melão do país (38% do total nacional). Contudo, o avanço gera tensões: 12% dos reservatórios do estado estão em estresse hídrico (Funceme, 2024), e o desmatamento no Bioma Caatinga cresceu 18% no último ano, vinculado à expansão agrícola. Para pesquisadores, o crescimento precisa conciliar produtividade com sustentabilidade, já que 40% das terras cultiváveis sofrem com desertificação.
Indústria em alta, mas serviços ainda engatinham
A indústria, com destaque para o complexo de energia eólica (23% da capacidade instalada nacional) e o Polo Industrial do Pecém, cresceu 10,65%. No entanto, o setor de serviços (+4,28%), responsável por 62% dos empregos formais, mostra lentidão. Enquanto o turismo patina (apenas 2% de alta), a taxa de desemprego permanece em 10,7% – acima da média Nordeste (9,1%) –, segundo o IBGE. O desafio é claro: gerar empregos qualificados além dos polos industriais.
Distribuição de renda: o lado oculto do "milagre cearense"
Apesar do PIB per capita de R$ 22,1 mil (Ipece, 2024), 31% da população vive abaixo da linha da pobreza (Banco Mundial). O crescimento concentrado em setores capital-intensivos, como energia e agroexportação, pouco impacta comunidades rurais e periferias urbanas. Enquanto o estado atrai gigantes como a Huawei (que inaugurou centro de dados em 2023), 48% dos jovens de 18 a 24 anos não concluíram o ensino médio (Inep), limitando acesso a vagas de alta qualificação.
Próximos passos: sustentabilidade ou risco de esgotamento?
O Ipece divulgou nesta quarta-feira (26) que 70% do crescimento industrial veio de multinacionais com incentivos fiscais. Para economistas, a dependência de isenções e a baixa diversificação econômica podem tornar o modelo vulnerável a crises externas. O governo promete ampliar investimentos em educação técnica e energia solar, mas, sem políticas redistributivas, o "crescimento chinês" do Ceará pode aprofundar fissuras sociais em vez de saná-las.