Publicado em: 23/05/2025
Itarema, CE – O açaí, fruto símbolo da Amazônia, está ganhando um novo lar e transformando a agricultura no litoral oeste do Ceará. A iniciativa, que começou em 2016 pelas mãos do empresário Alberto Félix, está provando que é possível adaptar a cultura do açaí ao semiárido cearense, com resultados surpreendentes.
A inspiração para o projeto surgiu após uma viagem de Alberto ao Pará, onde ele observou o plantio tradicional do açaí. Com o apoio da Embrapa, uma cultivar adaptada para terra firme foi introduzida no Ceará. "Não havia histórico no Ceará, então trouxemos o conhecimento e começamos o plantio — e deu certo", comemorou Alberto.
O açaí cearense, diferente da variedade amazônica cultivada em áreas alagadas, prospera em terra firme. A alta incidência solar do estado é um grande diferencial, com mais de 3.200 horas de sol por ano. Essa condição climática melhora o brix do açaí, tornando o fruto naturalmente mais doce, sem a necessidade de aditivos.
Atualmente, a área cultivada produz cerca de 100 mil mudas, e a meta ambiciosa da empresa é alcançar 1 milhão até o final do ano. Além do plantio, o projeto investe na venda de mudas e na oferta de assistência técnica a novos produtores, buscando a autossuficiência do Ceará e a ambição de tornar o estado um dos três maiores produtores de açaí do Brasil.
A sustentabilidade é um pilar fundamental da produção. O agrônomo Eliezer de Araújo ressalta a importância da preservação das matas nativas para garantir a polinização, utilizando colmeias com abelhas nativas sem ferrão, que são mais eficientes e contribuem diretamente para a produtividade.
O impacto social também é notável, com a geração de emprego e renda para famílias locais. O agricultor Carlos Henrique é um exemplo: "Eu trabalhava numa horta, mas não tinha carteira assinada. Aí apareceu essa oportunidade aqui e eu agarrei".
A nova cadeia produtiva tem beneficiado diretamente não só quem planta, mas também o consumidor final. Dona Francisca, proprietária de uma tradicional loja de açaí no centro de Itarema, comemora a mudança. "Antes, a gente dependia de açaí de fora, que vinha congelado de muito longe. A qualidade era boa, mas o preço era mais alto e nem sempre tão fresco", explica. "Agora, compramos direto dos produtores aqui da região. O açaí chega mais rápido, com um sabor incrível, e conseguimos repassar um preço mais justo para nossos clientes. Sem falar no orgulho de vender um produto da nossa terra!"
Com o crescimento da produção, a empresa planeja instalar uma indústria na própria fazenda para ampliar a oferta de subprodutos. Além do açaí in natura, já estão sendo desenvolvidos o pó liofilizado, óleo para cosméticos, caroço para café e chá de açaí, e até palmito.
A nova geração da família, representada por Victoria Albuquerque, filha de Alberto, está liderando a expansão internacional do negócio. O foco está no mercado externo com o açaí em pó e no investimento em cosméticos, priorizando a inovação, pesquisa e tecnologia para levar o açaí cearense ao mundo.