Publicado em: 01/04/2025
Isenção de IR até R$5 mil: um “presentinho fiscal” arriscado
A proposta de isenção do Imposto de Renda para rendas de até R$5 mil mensais foi classificada por Otaviano Canuto, ex-diretor do FMI e vice-presidente do Banco Mundial, como um “presentinho fiscal” exagerado. Em entrevista, ele alerta para o perigo de medidas populistas em um sistema tributário já frágil, onde 70% da arrecadação vem de impostos indiretos, penalizando os mais pobres. Embora taxar rendas acima de R$50 mil seja positivo, a isenção ampla para rendas acima de R$85 mil representa um estímulo fiscal de impacto duvidoso em meio à pressão inflacionária.
A doença crônica da economia brasileira
Canuto destaca a combinação tóxica entre “obesidade fiscal” e “anemia de produtividade”. Enquanto o Brasil mantém gastos públicos ineficientes – como subsídios tributários, aposentadorias precoces e uma folha salarial inchada – a produtividade permanece estagnada há décadas. O resultado é um ciclo vicioso: o governo busca “jeitinhos” para estimular a economia, recorrendo a medidas expansionistas próximas a períodos eleitorais, mas sem avançar em reformas estruturais.
Risco de juros mais altos e o custo do descontrole
Com a Selic em 13,75% (maior patamar desde 2016), a perspectiva é de novas altas, potencialmente atingindo níveis recordes em 20 anos. Para Canuto, essa escalada reflete a falta de sintonia entre política fiscal e monetária: “Se queremos juros menores, é crucial alinhar a demanda agregada com a capacidade produtiva”. O desafio é conter as pressões inflacionárias sem estrangular o crescimento, em um cenário global repleto de incertezas.
Gastar mais ou gastar melhor?
O economista critica a cultura de “gastar muito e mal”: 40% do Orçamento da União é engolido por despesas obrigatórias, enquanto os investimentos públicos caíram 50% na última década. Para ele, a solução não está em presentinhos fiscais, mas em racionalizar subsídios, modernizar a gestão e priorizar investimentos em infraestrutura e educação – os únicos capazes de elevar a produtividade e romper o ciclo de estagnação.
O alerta final
Enquanto o debate tributário se concentra em isenções pontuais, o país segue sem um plano crível para equilibrar as contas públicas e retomar o crescimento. A falta de coragem para implementar reformas profundas, somada à tentação de atalhos eleitoreiros, coloca o Brasil em rota de colisão: mais inflação, juros altos e perda de competitividade global. O recado é claro: sem ajustes dolorosos hoje, o preço amanhã será insustentável.