Publicado em: 25/03/2025
Leve recuperação da confiança do consumidor não apaga pressão de inflação e juros; dados revelam divisão por renda
Após três meses consecutivos de queda, a confiança do consumidor brasileiro registrou uma discreta alta de 0,7 ponto em março, atingindo 84,3 pontos, segundo a Fundação Getulio Vargas (FGV). No entanto, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) permanece na zona de pessimismo, refletindo um cenário econômico ainda frágil, marcado por inflação de alimentos e juros elevados.
O Índice da Situação Atual (ISA) subiu 1,6 ponto, para 81,0, impulsionado por avaliações menos negativas sobre a situação financeira das famílias (+2,4 pontos) e da economia local (+0,8 ponto). Porém, como destaca Anna Carolina Gouveia, economista do FGV IBRE, o otimismo foi restrito à maior faixa de renda. Para a maioria da população, a combinação de preços altos nos alimentos e taxa Selic em 14,25% ao ano continua a corroer o poder de compra.
Enquanto o Banco Central sinaliza mais um ajuste na Selic em maio, após elevar a taxa em 1 ponto percentual neste mês, as famílias de baixa renda enfrentam um aumento do endividamento e dificuldades para equilibrar o orçamento. "O desconforto persiste, especialmente para quem depende do crédito ou vive com salários corroídos pela inflação", explica Gouveia.
O Índice de Expectativas (IE) subiu apenas 0,1 ponto, para 87,4, com avanços mínimos nas perspectivas sobre a economia local (+0,7 ponto) e nas intenções de compra de bens duráveis (+4,5 pontos). Apesar disso, o indicador ainda reflete cautela, já que planos de consumo dependem de uma queda consistente da inflação e de alívio nos juros — cenário distante no curto prazo.
A recuperação da confiança, ainda que modesta, expõe uma clivagem econômica:
Renda alta: avaliação da situação financeira melhora, com espaço para planejar compras maiores;
Renda baixa e média: inflação de 5,3% nos alimentos (IPCA-15) e crédito caro mantêm o desânimo.
A mensagem dos dados é clara: enquanto o mercado comemora sinais de estabilização, a base da pirâmide segue sob pressão. Como lembra a FGV, "a confiança não se recupera de verdade sem políticas que ataquem o custo de vida e o acesso ao crédito". Enquanto isso, o otimismo restrito a uma minoria revela que a crise, para muitos, ainda está longe do fim.