Publicado em: 18/05/2025
Fortaleza pode perder posição estratégica com nova política de cabos submarinos?
O Ministério das Comunicações lançou uma consulta pública para elaborar a Política Nacional de Cabos Submarinos, que visa expandir a infraestrutura digital para regiões menos conectadas, como Norte e Sul do país. A medida, que vai até 27 de junho, busca reduzir desigualdades regionais, mas levanta questionamentos sobre o futuro do Hub Tecnológico de Fortaleza, atualmente um dos principais pontos de ancoragem de cabos submarinos do mundo, com 18 conexões ativas.
Risco real ou oportunidade de fortalecimento?
Especialistas divergem sobre os possíveis impactos. Enquanto o governo estadual adota cautela, o secretário da Casa Civil do Ceará, Chagas Vieira, afirma que uma equipe monitora o tema para "evitar prejuízos aos cearenses". Já Eduardo Tude, presidente da Teleco, argumenta que a descentralização não ameaça o protagonismo de Fortaleza, mas cria rotas redundantes essenciais para a segurança digital. "Os polos de Fortaleza e São Paulo estão consolidados e continuarão recebendo investimentos", ressalta.
Segurança digital versus concentração de infraestrutura
Yuri Melo, professor da UFC-Sobral, destaca que a proposta do MCom é uma estratégia de segurança para evitar apagões digitais, não um risco ao ecossistema cearense. "Fortaleza tem uma posição geográfica privilegiada e infraestrutura sólida, mas reduzir a dependência de um único ponto é crucial", explica. Ele sugere que o Ceará pode se tornar um articulador dessa expansão, usando seu know-how para manter relevância. A Anatel reforça que o projeto complementa – não substitui – o papel estratégico do estado, garantindo maior resiliência às redes nacionais.
O desafio da competitividade em um cenário em transformação
Se a política avançar, Fortaleza precisará se adaptar para competir com novas rotas. Melo aponta que o estado deve ir além da infraestrutura física, investindo em inovação e parcerias para manter sua atratividade. "O Ceará pode liderar esse processo de forma cooperativa", propõe. Com o mercado de cabos submarinos projetado para movimentar R$ 56 bilhões nos próximos cinco anos, o momento é decisivo: a descentralização pode democratizar o acesso à conectividade, mas exige que os polos consolidados reinventem seu valor estratégico.