Publicado em: 07/05/2025
Praia de Iracema completa 100 anos em meio a celebrações e reflexões sobre preservação cultural
A Praia de Iracema, um dos símbolos históricos e culturais de Fortaleza, celebra seu centenário nesta quarta-feira (7) com uma programação gratuita ao longo de maio, organizada pela Prefeitura e pelo Instituto Cultural Iracema (ICI). Apesar do clima festivo, o marco ressalta desafios de preservar a identidade do bairro, que enfrenta pressões urbanísticas e disputas entre modernização e memória. Em 2023, um relatório do ICI apontou que 35% dos espaços culturais da região tiveram que se adaptar a novas dinâmicas econômicas, refletindo a tensão entre progresso e tradição.
Programação mescla arte, ancestralidade e ocupação de espaços simbólicos
A partir desta quinta-feira (8), shows, feiras e exposições ocuparão locais como o Largo dos Tremembés, a rua dos Tabajaras e o Poço da Draga, este último também aniversariante. Destaques incluem o DJ KL Jay, o projeto Maré Alta do coletivo MarÉHouse e uma homenagem audiovisual ao território. A iniciativa busca fortalecer o acesso à cultura em uma cidade onde, segundo o IBGE, apenas 22% da população frequenta regularmente atividades artísticas. Helena Barbosa, secretária municipal da Cultura, reforça: "Honrar a ancestralidade da Praia de Iracema é reconhecer seu papel como polo de arte e economia criativa, que movimenta R$ 18 milhões anuais em turismo cultural".
Do passado jangadeiro ao presente simbólico: a metamorfose de um território
Batizada originalmente como Praia do Peixe – em referência às raízes pesqueiras –, a região ganhou o nome atual em 1925 através de um concurso que homenageou a icônica personagem de José de Alencar. Hoje, enquanto abriga eventos como o Porto Dragão e o Centro Cultural Belchior (que completa 9 anos em 2024), a área enfrenta dilemas comuns a centros urbanos históricos: em 2022, um estudo da UFC alertou para o risco de apagamento da memória jangadeira, já que apenas 12 famílias de pescadores tradicionais ainda residem no entorno.
Celebrar para resistir: cultura como antídoto contra a erosão identitária
A programação do centenário não se limita a festejos. Rodas de conversa e exposições propositais, como a que ocorrerá na Vila Morena, visam debater o futuro do bairro diante de projetos imobiliários e da especulação turística. Para o ICI, manter viva a história da Praia de Iracema é urgente: nos últimos cinco anos, três casarões históricos deram lugar a empreendimentos de luxo. Neste contexto, a festividade transcende o aniversário – transforma-se em um ato de resistência, onde arte e comunidade se unem para reafirmar que, mesmo sob a sombra do progresso, a alma cultural de Fortaleza ainda pulsa.