Governo federal acumula R$ 3,5 bilhões em viagens sigilosas de servidores - Pagenews

Governo federal acumula R$ 3,5 bilhões em viagens sigilosas de servidores

Publicado em: 01/06/2025

Governo federal acumula R$ 3,5 bilhões em viagens sigilosas de servidores
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Governo federal acumula R$ 3,5 bilhões em viagens sigilosas de servidores desde 2014
Dados revelam que uma em cada oito viagens oficiais realizadas nos últimos dez anos teve a identidade do servidor ocultada, totalizando R$ 3,5 bilhões em gastos com passagens e diárias sob sigilo. Além dos nomes, informações cruciais como destino, motivo da viagem e cargo do funcionário permanecem indisponíveis ao público — parte delas há mais de uma década.


Gastos sem transparência: diárias e passagens em sigilo
Do montante total, R$ 2,8 bilhões foram destinados a diárias (hospedagem, alimentação e deslocamento) para servidores não identificados, representando 20% das despesas federais com hospedagem no período. Outros R$ 712 milhões foram gastos em passagens aéreas sigilosas, equivalente a 10% do total. Os valores são depositados diretamente nas contas dos servidores, sem exigência de comprovação fiscal detalhada.


Comparação entre governos: sigilo em alta
A administração Bolsonaro (2019-2022) registrou o maior índice de ocultação, com 16% das viagens tendo nomes suprimidos. O atual governo Lula (2023-presente) segue próximo desse patamar, com 15% de sigilo até abril de 2025. Nos governos Dilma (12%) e Temer (11%), os percentuais foram ligeiramente menores. A análise, baseada no Portal da Transparência, considerou apenas viagens efetivamente realizadas.


Órgãos campeões em sigilo: segurança e Presidência
Polícia Federal (620 mil viagens sigilosas) e Polícia Rodoviária Federal (400 mil) lideram o ranking. A Presidência da República, sob o governo Lula, já solicitou mais de 2.000 viagens reservadas (66% do histórico do órgão), gastando R$ 4,8 milhões. Em nota, o Planalto justifica que medidas protegem a segurança do presidente e sua comitiva, com critérios definidos pelo Gabinete de Segurança Institucional.


Prazos questionáveis: sigilo além do necessário?
A Lei de Acesso à Informação estabelece prazos máximos para sigilo: 5 anos (reservado), 10 anos (secreto) e 25 anos (ultrassecreto). Entretanto, a Transparência Brasil alerta que mais de 4.000 viagens das gestões Dilma e Temer ainda têm dados ocultos, sugerindo descumprimento de prazos. "Isso prejudica o controle social e pode mascarar relações indevidas", critica Marina Atoji, da organização.


Justificativas oficiais x demandas por transparência
Enquanto PRF e PF defendem o sigilo como essencial para operações policiais, especialistas apontam excessos. Bruno Morassutti, da Fiquem Sabendo, destaca: "Há uma cultura de opacidade. O sigilo só se justifica quando realmente necessário — não como regra". CGU e Ministério da Gestão afirmam que a classificação segue critérios legais, mas admitem que os próprios órgãos emissores decidem pela reserva.


O dilema: segurança nacional versus accountability
O caso expõe o delicado equilíbrio entre proteção de informações sensíveis e transparência na gestão pública. Enquanto órgãos de segurança argumentam riscos operacionais, a sociedade civil cobra mecanismos mais rígidos para evitar abusos — especialmente quando bilhões de reais em recursos públicos permanecem sem fiscalização adequada por anos.

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