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Informaçôes: FolhaPress
Fortaleza, Ceará- Uma pesquisa inovadora, debruçada sobre os hábitos de mais de 42 mil indivíduos ao longo de décadas, lança uma luz preocupante sobre a nossa alimentação moderna. O estudo observou uma correlação significativa entre o consumo elevado de alimentos ultraprocessados e o desenvolvimento dos primeiros sinais não motores da doença de Parkinson. Ao comparar os participantes, os pesquisadores constataram que aqueles com maior ingestão desses produtos industrializados apresentavam um risco aumentado de manifestar pelo menos três sintomas precoces da patologia neurodegenerativa. Os autores enfatizam que essa descoberta reforça os malefícios já conhecidos desses alimentos para a saúde humana.
Raio-X Alimentar de Quatro Décadas:
- Longa Jornada de Dados: O estudo, publicado na prestigiada revista científica Neurology, базировался на informações coletadas de aproximadamente 42 mil participantes ao longo de um extenso período, de 1984 a 2006. Durante esses anos, os indivíduos forneceram detalhes sobre seus hábitos alimentares por meio de questionários detalhados.
- Cinco Grupos de Consumo: Com base nesses dados de consumo, os pesquisadores dividiram os participantes em cinco grupos distintos, categorizados pela quantidade média de alimentos ultraprocessados ingeridos diariamente. Essa segmentação permitiu uma análise comparativa robusta dos efeitos da dieta.
Sinais Precoces em Foco: Uma Janela para o Diagnóstico:
- Rastreamento de Sintomas Silenciosos: A partir de 2012, uma nova fase do estudo se iniciou, com os participantes respondendo a questões sobre a ocorrência de distúrbio comportamental do sono REM e constipação, dois sintomas não motores já estabelecidos como marcadores precoces do Parkinson.
- Leque de Sinais Investigados: Nos anos seguintes, em 2014 e 2015, os participantes foram novamente questionados sobre a presença ou ausência de outros sintomas relacionados ao Parkinson, como diminuição do olfato, alteração na percepção de cores, sonolência diurna excessiva, dores corporais inexplicáveis e sintomas depressivos.
- Alerta Precoce: Esses sintomas não motores podem surgir anos, e em alguns casos até décadas, antes dos problemas motores característicos do Parkinson. Identificá-los precocemente é crucial para um diagnóstico mais rápido e para a implementação de estratégias que possam retardar a progressão da doença.
Conexão Perigosa: Mais Ultraprocessados, Mais Risco:
- Quatro Grupos de Sintomas: Para a análise final, os participantes foram reagrupados em quatro segmentos, com base no número de sintomas não motores que relataram: nenhum sintoma, um sintoma, dois sintomas e pelo menos três sintomas.
- Dobro do Risco: A comparação entre os grupos revelou uma associação alarmante. Os participantes que se encontravam no grupo de maior consumo de ultraprocessados – ingerindo uma média de 11 desses alimentos diferentes por dia – apresentaram um risco mais que o dobro de desenvolver pelo menos três dos sete sintomas precoces de Parkinson analisados no estudo, em comparação com o grupo que consumia, em média, até três ultraprocessados diariamente.
Mecanismos Biológicos em Jogo:
- Inflamação e Estresse Oxidativo: Xiang Gao, professor do Instituto de Nutrição da Universidade Fudan, na China, e um dos autores do estudo, ressalta que pesquisas anteriores já haviam ligado o consumo de ultraprocessados ao aumento da inflamação sistêmica e a um maior risco de estresse oxidativo no organismo.
- Desequilíbrio Intestinal: Outro fator apontado é a alteração na diversidade da microbiota intestinal, um ecossistema complexo que desempenha um papel crucial na saúde neurológica. Desequilíbrios na flora intestinal também têm sido associados ao desenvolvimento do Parkinson.
- Morte Neuronal: Todos esses mecanismos – inflamação, estresse oxidativo e desequilíbrio intestinal – estão intrinsecamente relacionados à morte de neurônios, o processo central na progressão da doença de Parkinson, o que poderia explicar a aparente ligação observada no estudo.
Próximos Passos da Ciência:
- Estudos Futuros: Conscientes do caráter pioneiro de sua pesquisa, os autores enfatizam a necessidade de outros estudos semelhantes para fortalecer as evidências científicas dessa associação entre ultraprocessados e os primeiros sinais do Parkinson.
- Impacto no Início da Doença: Uma das próximas linhas de investigação planejadas por Gao e sua equipe é analisar o possível impacto da ingestão de ultraprocessados no próprio início da doença de Parkinson, buscando entender se esses alimentos podem ser um fator desencadeador em indivíduos predispostos.
- Intervenção Dietética: Outra questão crucial a ser explorada é se a redução do consumo de alimentos ultraprocessados durante a fase de sintomas não motores do Parkinson poderia influenciar a velocidade de progressão da doença, abrindo novas perspectivas para intervenções terapêuticas baseadas na dieta.
Este estudo inovador serve como um alerta importante para repensarmos nossos hábitos alimentares e o impacto dos alimentos ultraprocessados em nossa saúde neurológica a longo prazo. A crescente prevalência do Parkinson e a busca por estratégias de prevenção e diagnóstico precoce tornam essa linha de pesquisa fundamental para o futuro da saúde pública.