Publicado em: 04/05/2025
A grave crise de abastecimento de água que assola Exu, no sertão de Pernambuco, há cerca de quatro meses, escancara uma realidade preocupante no semiárido nordestino. Enquanto os moradores da cidade natal de Luiz Gonzaga clamam por soluções e dependem de alternativas precárias como carroças e carros-pipa, a situação hídrica no vizinho Ceará, apesar de um cenário mais favorável em algumas regiões após a quadra chuvosa de 2024, ainda exige cautela e atenção.
Os relatos de Exu são alarmantes: bairros inteiros sem água nas torneiras por mais de 120 dias, impactando o cotidiano de escolas, postos de saúde e comércio. A população, mesmo com as contas em dia com a Companhia Pernambucana de Saneamento (Compesa), sente na pele a ausência de um serviço essencial. As críticas direcionadas à Compesa, ao prefeito e ao governo estadual refletem o desespero de uma comunidade que se sente abandonada em pleno século XXI. O Sistema Integrado Luiz Gonzaga, que deveria atender à cidade, demonstra falhas graves, com o rodízio de abastecimento inoperante.
No Ceará, a situação hídrica apresenta nuances importantes. A quadra chuvosa de 2024 trouxe aportes significativos para diversos açudes, com 77 deles sangrando – o melhor índice desde 2009. Os três maiores reservatórios do estado, Castanhão, Orós e Banabuiú, registraram os maiores níveis dos últimos anos. O Orós, por exemplo, atingiu 74% de sua capacidade, um alívio considerável após anos de baixa. O Castanhão, embora ainda não nos patamares ideais, alcançou 36%, o maior percentual desde 2014, dispensando pelo quinto ano seguido o envio de água para a Região Metropolitana de Fortaleza, que se beneficia dos bons volumes dos açudes Pacoti, Pacajus Riachão e Gavião.
No entanto, nem todo o Ceará celebra a fartura hídrica. A bacia hidrográfica dos Sertões de Crateús enfrenta uma situação crítica, com menos de 25% de sua capacidade acumulada. Outros 20 reservatórios no estado operam com volumes inferiores a 30%, acendendo um sinal de alerta para municípios como Ibicuitinga, Itatira, Milhã e Quiterianópolis, que já em janeiro de 2024 apresentavam alta criticidade no abastecimento. A distribuição irregular das chuvas, característica do clima semiárido, continua a ser um desafio.
Apesar de um abril de 2025 com chuvas 35% abaixo da média histórica no Ceará, o primeiro trimestre da quadra chuvosa (fevereiro a abril) ficou dentro da normalidade. A Companhia de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) monitora a situação e implementa ações preventivas em áreas mais vulneráveis. Em maio de 2025, a previsão aponta para uma alta variabilidade das chuvas, exigindo um acompanhamento constante da situação dos reservatórios e uma gestão eficiente dos recursos hídricos.
A disparidade entre a crise enfrentada em Exu e a situação hídrica do Ceará, com suas áreas em recuperação e outras ainda em alerta, ilustra a complexidade da gestão da água no Nordeste. Enquanto Pernambuco busca soluções emergenciais para Exu, o Ceará, mesmo com avanços, precisa manter a vigilância e a implementação de estratégias de uso sustentável da água para garantir o abastecimento em todas as suas regiões, especialmente aquelas mais suscetíveis aos efeitos da seca. A colaboração entre estados e a busca por soluções integradas são cruciais para mitigar os impactos da escassez hídrica no semiárido.