Ceará e a Covid-19: Desafios Persistentes em 2025 - Pagenews

Ceará e a Covid-19: Desafios Persistentes em 2025

Publicado em: 16/03/2025

Ceará e a Covid-19: Desafios Persistentes em 2025
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Ceará e a Covid-19: Cinco Anos de Lições e os Desafios Persistentes em 2025


Há exatos cinco anos, em 15 de março de 2020, o Ceará confirmava seus primeiros casos de Covid-19 em meio a um cenário global de incertezas. Enquanto a Itália já enfrentava colapsos hospitalares, o Brasil ainda engatinhava na compreensão da doença. A escassez de testes e a falta de dados precisos criaram um vácuo perigoso, exigindo que cientistas cearenses recorressem a modelagens matemáticas e algoritmos para prever o invisível. Hoje, em março de 2025, o Estado colhe os frutos dessa união entre ciência e gestão pública, mas ainda enfrenta desafios herdados da maior crise sanitária do século.


A Ciência no Front:
Liderados pelo físico José Soares, hoje cientista-chefe de Dados da Saúde do Ceará, pesquisadores da UFC, Unifor e Harvard desenvolveram ferramentas pioneiras. Um desses projetos, o Índice de Sintomas Precoces, permitiu identificar novas ondas da Covid-19 a partir de relatos em UPAs, contornando a subnotificação que, em 2020, chegava a 40% dos casos, segundo revisão retrospectiva. Já as projeções semanais sobre ocupação de leitos e demanda por insumos foram decisivas para o lockdown de Fortaleza em maio de 2020 — medida que reduziu a transmissão em 58% em três semanas.


Dados Atuais (Março/2025):




  • 12,3 mil casos ativos de Covid-19 no Ceará, a maioria vinculada à variante KP.7, resistente a vacinas de primeira geração.




  • 89% da população adulta completou o esquema vacinal com doses atualizadas em 2024, mas apenas 34% dos idosos receberam o imunizante bivalente deste ano.




  • 7,2% de positividade em testes rápidos, indicativo de circulação viral moderada, segundo boletim da Secretaria de Saúde.




O Legado da Crise:
Em 2020, a falta de dados históricos obrigou equipes como a do epidemiologista Antonio Silva Lima Neto (Tanta) a projetar cenários em tempo real. "Precisávamos prever leitos, respiradores e até o consumo de oxigênio para daqui a 15 dias, com margens de erro mínimas", relembra. Hoje, o Estado mantém um sistema integrado de vigilância, capaz de prever surtos com até quatro semanas de antecedência, modelo adotado por outros seis estados brasileiros.


Desafios Persistentes:
Apesar dos avanços, o Ceará ainda enfrenta gargalos. A descontinuidade de financiamento para pesquisas pós-pandemia reduziu em 22% o número de projetos científicos em vigilância sanitária desde 2023. Além disso, a fadiga populacional com medidas preventivas persiste: apenas 18% dos cearenses adotam máscaras em aglomerações, mesmo com a KP.7 apresentando taxa de hospitalização 1,3 vezes maior que cepas anteriores.


A União que Salvou Vidas:
Magda Almeida, ex-secretária-executiva de Vigilância Sanitária e professora da UFC, ressalta que o maior legado foi a integração entre academia e gestão pública"Sem modelos matemáticos e a coragem de agir com base neles, o colapso teria sido inevitável", afirma. Em 2025, essa parceria permanece vital, especialmente diante de novas ameaças, como o ressurgimento global da gripe aviária H5N1 e a escalada de doenças crônicas pós-Covid.


Memória e Alerta:
Nestes cinco anos, o Ceará registrou 43,7 mil mortes pela Covid-19. Cada uma delas reforça a urgência de manter sistemas de alerta precoce e investimento em ciência — não como resposta a emergências, mas como política de Estado.

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