Crédito consignado atinge 35 milhões de simulações em dois dias - Pagenews

Crédito consignado atinge 35 milhões de simulações em dois dias

Publicado em: 23/03/2025

Crédito consignado atinge 35 milhões de simulações em dois dias
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Crédito consignado atinge 35 milhões de simulações em dois dias, mas alerta para riscos de superendividamento
Programa do governo amplia acesso a empréstimos, mas especialistas reforçam necessidade de educação financeira em meio a cenário frágil


Em menos de 48 horas após o lançamento do "Crédito do Trabalhador", o Brasil registrou 35,9 milhões de simulações de empréstimo consignado para profissionais com carteira assinada, segundo balanço do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) até as 11h deste domingo (23). O número, que inclui 3,1 milhões de propostas formais e 7.644 contratos fechados, reflete a urgência de uma população onde 78,3% das famílias estão endividadas (CNC, março/2024) e 30,2% têm contas em atraso.


Acesso imediato, riscos em longo prazo:
O programa, operado via aplicativo da Carteira de Trabalho Digital (68 milhões de cadastrados), permite empréstimos de até 35% do salário, com garantia de 10% do FGTS e 100% da multa rescisória. A facilidade, porém, acende um sinal amarelo: no Brasil, 27,9 milhões de pessoas já estão negativadas (Serasa, fev/2024), e o crédito consignado responde por 43% das dívidas das famílias (Banco Central, 2023). "A democratização do crédito é essencial, mas sem educação financeira, pode virar uma armadilha", alerta Ricardo Moraes, economista da FGV.


Entre a necessidade e a prudência:
A partir de 25 de abril, bancos poderão ofertar o crédito em suas plataformas, ampliando o alcance. O governo criou um Comitê Gestor para regulamentar as operações e garantiu direito de arrependimento em sete dias. No entanto, organizações como o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) questionam a eficácia dessas medidas: "A pressão por taxas atraentes pode mascarar custos reais, especialmente para trabalhadores de baixa renda", afirma Marcela Ávila, coordenadora do instituto.


Contexto delicado:
A explosão de simulações ocorre em um momento em que 62% dos brasileiros usam o salário antes do recebimento para cobrir despesas (pesquisa Fecomércio/2024), e o auxílio emergencial pós-pandemia não chega mais a 18 milhões de famílias. Para Maria Clara Soares, consultora do MTE, "o consignado é uma ferramenta vital, mas deve ser acompanhado de políticas públicas que combatam a inflação de 5,8% no acumulado do ano, que corrói o poder de compra".


O caminho a seguir:
Enquanto o governo celebra a adesão maciça, especialistas defendem campanhas massivas sobre planejamento financeiro e taxas de juros — hoje, o consignado privado varia entre 1,3% e 2,5% ao mês, ante 1,99% do público (Caixa). "Não se trata de demonizar o crédito, mas de equilibrar acesso e responsabilidade", conclui Moraes. Em um país onde a desigualdade ainda marca o dia a dia, a linha entre alívio e endividamento crônico permanece tênue.

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