Publicado em: 16/03/2025
Crise aérea em Fernando de Noronha expõe falhas sistêmicas e deixa turistas e moradores em situação crítica
A suspensão dos voos da Voepass em Fernando de Noronha pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) gerou um colapso logístico na ilha, deixando centenas de passageiros à deriva. Desde fevereiro de 2025, apenas a Azul opera voos regulares, com capacidade insuficiente para atender à demanda — 72% dos voos programados para o mês foram cancelados, segundo o Sindicato Brasileiro de Empresas Aéreas (SBEA). A Latam obteve autorização emergencial para voos até 24 de fevereiro, mas com escalas limitadas, usando aeronaves Airbus A319/A320. A situação revela uma fragilidade alarmante: Noronha recebe 85% de seus visitantes por via aérea, e a interrupção impacta diretamente 1.200 famílias que dependem do turismo (IBGE, 2024).
Carolina Valadares, jornalista de Brasília, personifica o drama: após ter seu voo de volta (18/02) cancelado, enfrenta o risco de ficar ilhada enquanto cuida dos pais nonagenários, um com Parkinson e demência. “A Latam oferece reembolso, mas não uma solução. Não há rotas alternativas: nem barcos, nem voos disponíveis”, relata. Casos como o dela são comuns: 230 passageiros estão presos na ilha, segundo o Procon-PE, e 44% já tiveram prejuízos profissionais ou familiares (pesquisa Datafolha, fev./2025).
Enquanto a Voepass alega cumprir a Resolução 400 da Anac (reembolsos e realocação em voos próprios), a realidade é mais dura: 61% dos afetados não conseguiram remarcar passagens devido à lotação da Azul. A Anac promete normalizar operações com jatos em abril, mas especialistas questionam o prazo. “A infraestrutura do aeroporto de Noronha suporta apenas 4 voos diários, menos da metade do necessário em alta temporada”, explica Carlos Brito, consultor em aviação civil.
O prejuízo já é palpável:
Hotéis reportam cancelamentos de 35% das reservas para março (Associação de Hotéis de Noronha).
Comércio local prevê perdas de R$ 12 milhões no trimestre (Fecomércio-PE).
A Azul, única operadora regular, evitou comentar sobre ampliação de voos, enquanto a Latam limita-se a voos pontuais. Para piorar, a Anac não detalhou como garantirá a segurança das operações com jatos, num cenário onde 18% das pistas do Nordeste têm irregularidades (Relatório da FAB, 2024).
A crise em Noronha reflete um problema nacional: o Brasil ocupa o 89º lugar em eficiência aérea global (Fórum Econômico Mundial, 2024). Enquanto turistas como Carolina improvisam soluções, a ilha — Patrimônio da Humanidade — vê sua economia definhar. Urge não apenas resolver este impasse, mas repensar a infraestrutura de destinos estratégicos, onde a aviação é mais que transporte: é uma tênue linha entre isolamento e sobrevivência.