Publicado em: 18/03/2025
Crise no mercado de café: clima extremo pressiona preços globais e ameaça sustentabilidade do seto
A escalada histórica nos preços do café em 2025 reflete um cenário de emergência climática e desequilíbrio estrutural na produção global. Segundo relatório da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação), os futuros do café arábica na Bolsa de Nova York atingiram 438 cents de dólar por libra-peso em fevereiro, valor 20% superior ao início do ano e mais que o dobro do registrado em 2024. O fenmeno, impulsionado por secas prolongadas no Brasil e no Vietnã — responsáveis por mais de 50% da produção mundial —, já impacta consumidores e ameaça a estabilidade do setor.
No Vietnã, a seca reduziu a produção em 20% na safra 2023/24, com agricultores retendo estoques diante da alta dos preços domésticos.
No Brasil, o calor extremo revisou para baixo as projeções de colheita: de um crescimento esperado de 5,5%, a produção caiu 1,6% na última temporada. Para 2025, a previsão oficial aponta nova queda de 4,4%, mesmo com melhores condições climáticas recentes.
A FAO alerta que os preços podem subir ainda mais se os padrões climáticos extremos persistirem. "Estamos diante de uma tempestade perfeita: oferta reduzida, demanda resiliente e custos logísticos elevados", explica El Mamoun Amrouk, economista sênior da organização.
A alta nos preços internacionais já se reflete no varejo:
Nos EUA, o café ficou 6,6% mais caro em dezembro de 2024 ante 2023.
Na União Europeia, o aumento foi de 3,8% no mesmo período.
A tendência é preocupante, pois, como destaca Amrouk, "os repasses aos consumidores tendem a perdurar mesmo com eventual queda nas cotações internacionais". Enquanto países desenvolvidos mantêm consumo estável, mercados emergentes — onde a demanda por café cresce — enfrentam pressão adicional no orçamento das famílias.
A recuperação econômica pós-pandemia elevou o consumo global, exacerbando o desequilíbrio entre oferta e demanda. Somam-se a isso os custos de transporte, que subiram na primeira metade de 2024, encarecendo ainda mais a cadeia produtiva.
Apesar de o Vietnã projetar recuperação na nova safra, o Brasil segue vulnerável. As plantações ainda sofrem os efeitos da seca de 2024, e a dependência de poucos países produtores expõe o mercado a riscos sistêmicos. Para a FAO, é urgente investir em resiliência climática e diversificação geográfica para evitar crises recorrentes.
Enquanto isso, o café — segunda commodity mais negociada no mundo após o petróleo — torna-se símbolo de um desafio maior: como garantir segurança alimentar e preços acessíveis em um planeta cada vez mais instável. A xícara matinal, para milhões, pode se transformar em um luxo caso não haja ações coordenadas entre governos, produtores e mercados