Publicado em: 25/03/2025
EUA ampliam importação de ovos brasileiros em meio a crise sanitária e inflação recorde
Os Estados Unidos aumentaram em 93% as importações de ovos do Brasil em fevereiro de 2024, uma resposta urgente ao surto de gripe aviária que já eliminou 170 milhões de aves no país desde 2022, segundo dados do USDA. A medida integra um plano de US$ 1 bilhão do governo Biden para conter preços que chegaram a subir 53,6% no atacado, pressionando a inflação alimentar e deixando prateleiras de supermercados sem estoques. A crise, porém, levanta debates acalorados sobre segurança e ética: os EUA estudam flexibilizar regras para permitir ovos de frangos de corte (originalmente destinados à destruição) em alimentos processados, apesar do risco de contaminação por salmonella.
Entre desespero e risco: a polêmica dos ovos de frangos de corte
Anualmente, 360 milhões de ovos postos por frangos de corte são descartados nos EUA por não cumprirem normas de refrigeração da FDA – que exige resfriamento a 7°C em até 36 horas após a postura. Produtores, sem infraestrutura para atender à regra, pressionam por mudanças, alegando que a pasteurização eliminaria patógenos. Especialistas, como Susan Mayne, ex-diretora da FDA, alertam: "A falta de refrigeração adequada pode elevar bactérias a níveis perigosos, mesmo após o processamento". Em 2023, a agência já rejeitou pedido similar, citando surtos de salmonelose que hospitalizam 26,5 mil norte-americanos por ano (CDC).
Brasil no centro do debate: oportunidade e riscos sanitários
O Brasil, segundo maior exportador global de ovos, viu suas vendas aos EUA dispararem, mesmo com o país enfrentando surtos de doença de Newcastle – vírus fatal para aves, mas não transmitido a humanos. A autorização para exportar ovos processados (usados em misturas de bolo e sorvetes) ocorreu após testes comprovarem padrões sanitários, mas críticos destacam o paradoxo: enquanto os EUA relaxam regras internas, dependem de um parceiro que não pode fornecer ovos frescos ou líquidos pasteurizados devido a suas próprias crises avícolas.
Custo social e ético: o preço da escassez
Além de importações, estados como Nevada e Arizona suspenderam políticas de bem-estar animal que exigiam ovos de galinhas livres de gaiolas, retrocedendo décadas de avanços. Para agricultores como Mark Burleson, da Wayne-Sanderson Farms, a medida é necessária: "Destruímos 500 mil ovos/semana, enquanto famílias pagam US$ 5 por dúzia". Já organizações de direitos animais denunciam o retrocesso, lembrando que 90% das galinhas poedeiras nos EUA ainda vivem em gaiolas em bateria.
Um futuro frágil: entre a inflação e a segurança
Enquanto o Congresso debate projetos para liberar ovos "não convencionais", a FDA mantém cautela. A gripe aviária, que já atingiu 47 estados norte-americanos, não dá tréguas: em março, novos focos no Texas e Iowa reacenderam alertas. Para o Brasil, a alta demanda traz receita, mas expõe vulnerabilidades – afinal, 40% dos surtos de Newcastle no país ocorreram em 2023 (MAPA). A crise dos ovos revela, assim, um dilema global: como equilibrar acesso a alimentos, segurança sanitária e ética em tempos de colapso climático e pandemias animais.