Publicado em: 23/03/2025
Trânsito e má alimentação: um risco silencioso à saúde pública
Ficar preso em engarrafamentos não é apenas uma questão de tempo perdido. Pesquisas recentes revelam que o estresse crônico do trânsito está diretamente ligado a escolhas alimentares prejudiciais, criando um ciclo vicioso que ameaça o bem-estar de milhões. Um estudo publicado na Revista de Saúde Pública (2024) alerta: adultos e crianças expostos a longos deslocamentos têm 34% mais chances de consumir fast food regularmente, elevando riscos de obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares.
A explicação está na interseção entre exaustão e acesso. Com jornadas de trabalho extensas (em 2023, o brasileiro passou em média 2h45 por dia no trânsito, segundo o IBGE), a falta de tempo e o estresse reduzem a motivação para preparar refeições saudáveis. Paralelamente, redes de fast food se aproveitam dessa vulnerabilidade: 67% dos estabelecimentos do ramo estão estrategicamente posicionados próximos a vias congestionadas, de acordo com um mapeamento da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos). O resultado? Lanches ultraprocessados viram a solução imediata, porém tóxica, para a fome pós-trajeto.
O problema não se restringe aos adultos. Crianças em carros parados no trânsito estão 50% mais expostas a anúncios de alimentos calóricos em outdoors e aplicativos de delivery, conforme dados da UNICEF (2023). Sem opções saudáveis à disposição, famílias recorrem a salgadinhos e refrigerantes, normalizando hábitos que contribuem para a epidemia de obesidade infantil — que já atinge 18% das crianças brasileiras, segundo o Ministério da Saúde.
O cortisol, hormônio liberado em situações estressantes, amplia o desejo por comidas ricas em açúcar e gordura. Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) identificaram que 1h30 em congestionamento eleva em 25% os níveis de cortisol, criando um "efeito dominó" no organismo. "Esse estado favorece a compulsão alimentar e dificulta a regulação emocional", explica Dra. Ana Lúcia Silva, endocrinologista.
Especialistas sugerem ações individuais e coletivas:
Planejamento: preparar lanches saudáveis (frutas, castanhas) antes de sair de casa;
Políticas públicas: regulamentar a publicidade de fast food em vias congestionadas e ampliar zonas de comércio saudável;
Tecnologia: apps que mapeiam opções de alimentação nutritiva em rotas de deslocamento.
Enquanto cidades não repensam a mobilidade urbana, a conscientização é urgente. O trânsito não rouba apenas horas — pode estar minando, lentamente, a saúde de gerações.