Publicado em: 17/03/2025
Motoristas de Aplicativo em Fortaleza: Lucros Aparentes e Custos Invisíveis em um Mercado Global em Expansão
A imagem de flexibilidade e ganhos elevados associada aos motoristas de aplicativo esconde uma realidade complexa. Em Fortaleza, onde a Uber consolidou-se como uma das principais fontes de renda, os profissionais trabalham em média 55 horas semanais – mais que o dobro da jornada padrão de 44 horas no Brasil – para um **lucro líquido mensal de R2.897,48.
O estudo da Gigu revela que, na capital cearense, os motoristas faturam R$ 6.428,57/mês, mas 55% desse valor é consumido por despesas fixas. A comparação com outras cidades brasileiras expõe contrastes:
São Paulo: R$ 566,96/dia (8h)
Rio de Janeiro: R$ 489,62/dia
Fortaleza: R$ 366,85/dia (considerando 55h semanais)
Apesar da jornada extenuante, a atividade atrai pela autonomia e pela falta de alternativas em um país onde o desemprego ainda atinge 7,8% da população, segundo o IBGE. “Muitos entram por necessidade, mas permanecem pela ausência de opções com a mesma rentabilidade imediata”, analisa Luiz Gustavo Neves, CEO da Gigu.
Riscos invisíveis: saúde e sustentabilidade
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) alerta que motoristas de app estão entre os profissionais mais suscetíveis a lesões por esforço repetitivo, estresse crônico e acidentes. Na França, um estudo da Universidade de Paris associou jornadas superiores a 50 horas semanais a um aumento de 40% no risco cardiovascular. No Brasil, onde 38% dos motoristas usam carros alugados (como os 585 em Fortaleza), o endividamento é uma ameaça constante: o aluguel consome até 40% do lucro líquido, segundo a Associação Brasileira de Locadoras (ABLA).
O futuro do setor: entre algoritmos e direitos
Enquanto a Uber projeta crescimento global de 15% ao ano, pressionada por concorrentes como Bolt e 99, motoristas exigem melhorias. Na Califórnia (EUA), a Proposta 22 garantiu benefícios como seguro-saúde parcial, modelo que inspira debates no Brasil. Por aqui, projetos como o PL 2.478/2023 buscam regulamentar jornadas e repartir custos de combustível com as plataformas.
Apesar dos desafios, o setor segue vital: no Ceará, os R$ 34,7 milhões anuais injetados na economia por motoristas de app equivalem a 12% do PIB do turismo local. O caminho adiante exigirá equilíbrio: inovação não pode ser sinônimo de precarização. Como resume Neves: “A rentabilidade existe, mas o preço humano precisa entrar na equação”.