Publicado em: 16/03/2025
Ceará em Alerta Hídrico: Liberação Emergencial de Água em Meio à Quadra Chuvosa Frustrada
Em meio a uma quadra chuvosa crítica, o Ceará adotou medidas emergenciais para garantir o abastecimento de água até junho de 2025. Nesta sexta-feira (14), a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) e os Comitês de Bacias Hidrográficas do Vale do Jaguaribe e Banabuiú decidiram liberar vazões controladas dos três maiores açudes do estado — Castanhão, Orós e Banabuiú —, que hoje operam com níveis preocupantes: 28,06%, 65,59% e 35,39% de capacidade, respectivamente. A decisão, incomum para o período, reflete a gravidade da estiagem: as chuvas de fevereiro estão 40% abaixo da média histórica nas regiões críticas, segundo a Fundação Cearense de Meteorologia (Funceme).
Contexto de Crise:
O período de fevereiro a maio, tradicionalmente marcado por chuvas intensas, é crucial para recarregar os reservatórios. Em 2025, porém, a escassez precoce obrigou a Cogerh a liberar água durante a quadra chuvosa — algo inédito na última década. "Deveríamos estar acumulando, mas em áreas onde não chove, precisamos garantir água para consumo humano, animais e irrigação", explicou Tércio Dantas Tavares, diretor de Operações da Cogerh.
Dados Atuais (Fevereiro/2025):
72 municípios cearenses estão em alerta hídrico, afetando 1,8 milhão de pessoas.
Agricultura irrigada: Cultivos de fruticultura no Vale do Jaguaribe, responsáveis por 30% das exportações estaduais, dependem das vazões emergenciais para evitar perdas totais.
Custo da água: O preço do metro cúbico para irrigação subiu 25% desde janeiro, pressionando pequenos produtores.
Riscos Imediatos:
A liberação de água dos açudes, embora necessária, reduz a capacidade de segurança do estado para os próximos meses. O Castanhão, maior reservatório do Ceará, está no nível mais baixo desde 2018, quando atingiu 2,3% durante a seca histórica. Se as chuvas não se normalizarem até abril, projeções indicam que o volume armazenado no estado poderá cair para 18% até julho — patamar crítico para abastecimento urbano.
Estratégias em Curso:
Além das vazões controladas, a Cogerh ampliou o rodízio de água em 15 cidades e incentivou a perfuração de poços emergenciais. Paralelamente, o governo estadual estuda acionar o Sistema Adutor do Jaguaribe, que interliga bacias, para redistribuir recursos hídricos. Medidas paliativas, porém, não resolvem o cerne do problema: a dependência de um ciclo de chuvas cada vez mais imprevisível.
O Papel dos Comitês:
A decisão envolveu entidades públicas, usuários de água e sociedade civil, destacando a pressão de agricultores e comunidades rurais. "Sem água, perdemos safras e rebanhos. É uma crise humanitária silenciosa", alertou Maria do Socorro, representante de assentamentos no Banabuiú. Enquanto isso, a Cogerh monitora diariamente as bacias, numa corrida contra o tempo para equilibrar necessidades imediatas e segurança hídrica futura.
Com o clima desafiando projeções, o Ceará enfrenta um dilema histórico: como preservar suas "caixas d’água" estratégicas sem sacrificar populações que dependem delas hoje. Em fevereiro de 2025, a prudência no manejo hídrico não é uma opção — é uma sobrevivência.