Publicado em: 16/03/2025
Duplo homicídio em Maracanaú expõe crise de violência juvenil e desafios de segurança na Região Metropolitana de Fortaleza
Dois jovens, de 18 e 19 anos, foram executados com múltiplos tiros dentro de uma residência no bairro Cágado, em Maracanaú, na madrugada deste domingo (16/06). O crime, investigado pela Polícia Civil do Ceará (PCCE), ocorre em um contexto alarmante: o Ceará registrou 2.843 homicídios em 2023, com a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF) concentrando 47% dos casos (dados SSPDS). Entre as vítimas, 68% tinham entre 15 e 29 anos — faixa etária que inclui os dois adolescentes assassinados.
Segundo relatos preliminares, os criminosos invadiram o imóvel por volta de 1h30 e efetuaram disparos contra os ocupantes antes de fugir. O método — invasão domiciliar seguida de execução — reflete um padrão recorrente: em 2024, 32% dos homicídios na RMF ocorreram em residências, muitas vezes ligados a conflitos territoriais ou dívidas não resolvidas (Instituto de Pesquisa em Segurança Pública do Ceará).
A SSPDS afirmou que as equipes da PCCE coletam provas e buscam imagens de câmeras de segurança, mas até o momento não há suspeitos identificados. A lentidão nas investigações preocupa: apenas 18% dos homicídios dolosos no estado são elucidados (Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 2023).
Para Maria Alves, coordenadora do Instituto Paz em Ação, ONG local que atua contra a violência juvenil, "casos como esse revelam a vulnerabilidade de jovens periféricos, muitas vezes cooptados por ciclos de violência antes mesmo da maioridade". Dados do IBGE (2023) mostram que 43% dos jovens de Maracanaú entre 16 e 24 anos não estudam nem trabalham, fator agravante para a exposição a riscos.
Apesar de o estado ter reduzido homicídios em 11% desde 2022, especialistas criticam a falta de programas socioeducativos direcionados: apenas 8% do orçamento da SSPDS é destinado a prevenção (TCE-CE, 2024). Enquanto isso, famílias como a das vítimas enfrentam o luto em silêncio. "Meu filho queria ser mecânico. Agora só restou a incerteza", desabafa um parente que preferiu não se identificar.
A SSPDS promete reforçar o patrulhamento no bairro, mas comunidades locais cobram medidas estruturais:
Expansão do Programa Juventude Ativa, que oferece cursos profissionalizantes (hoje presente em apenas 15% dos bairros da RMF).
Instalação de câmeras inteligentes em áreas críticas — projeto parado desde 2022 por falta de verba.
Enquanto as respostas não chegam, o medo se alastra. Como lembra o sociólogo Raul Mendes: "Cada jovem perdido é um sinal de que o pacto social está rompido. Não basta prender; é preciso dar alternativas antes que a violência as substitua".