Publicado em: 28/03/2025
Ministério da Saúde busca líderes religiosos em guerra contra a desinformação vacinal
Em meio à queda preocupante na cobertura vacinal – que atingiu 60% para a gripe em 2023, menor índice em uma década –, o ministro Alexandre Padilha iniciou uma ofensiva estratégica: engajar pastores evangélicos como aliados na campanha nacional de vacinação, que começa em 7 de abril. A escolha não é casual: 31% dos 65 milhões de evangélicos brasileiros ainda desconfiam de vacinas, segundo estudo da Fiocruz de março de 2024.
Raízes da desconfiança: números que alarmam
A rejeição vacinal entre evangélicos persiste como herança da pandemia. Em 2021, 46% desse grupo subestimavam os riscos da Covid-19, e 14% recusavam vacinas. Hoje, mesmo com 82 mil mortes evitadas por imunizantes (dados do Observatório Saúde Evangélica), 1 em cada 5 fiéis ainda acredita em teorias como "vacinas alteram DNA". O desafio é urgente: a gripe causou 2.100 mortes no Brasil em 2023, 35% em comunidades com baixa adesão vacinal.
Estratégia de fé: Zé Gotinha no púlpito
Na Conamad, maior convenção evangélica do país, Padilha apresentou o Zé Gotinha a 15 mil líderes religiosos no Brás (SP). A simbologia é clara: transformar templos em postos de vacinação temporários. A aposta se baseia em dados: 68% dos fiéis seguem orientações de seus pastores sobre saúde, segundo pesquisa DataPaz de 2023. A meta é vacinar 4 milhões de pessoas diretamente nesses espaços até maio.
Além dos evangélicos: uma rede de influenciadores
O plano inclui parcerias com terreiros de umbanda, comunidades católicas e até torcidas organizadas. Para cada grupo, uma abordagem: nas periferias, vacinação combinada com mutirões sociais; em estádios, postos móveis durante jogos. O ministério treinou 1.200 "embaixadores da vacina" – líderes comunitários que usarão redes sociais para combater fake news, responsáveis por 40% da hesitação vacinal.
Risco calculado: quando a religião vira salvação literal
Padilha admite o desafio: "Estamos reescrevendo a história da saúde pública, onde fé e ciência precisam coexistir". Enquanto isso, o SUS prepara 80 milhões de doses contra gripe, com foco em idosos, gestantes e indígenas. A batalha é contra o tempo: em 2022, surtos de sarampo em comunidades religiosas alertaram para o perigo da baixa imunização. Agora, mais que agulhas, o que se injeta é confiança – e o sucesso dessa campanha pode definir o futuro de epidemias no Brasil.