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Recife e Fortaleza ganharão voos diretos para Madri

Publicado em: 23/03/2025

Recife e Fortaleza ganharão voos diretos para Madri
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Recife e Fortaleza ganharão voos diretos para Madri, mas desafios ambientais e econômicos pressionam setor aéreo
Ibéria anuncia rotas para Nordeste em 2025-2026, em movimento que impulsiona turismo, mas levanta questões sobre sustentabilidade e desigualdade regional


A companhia aérea espanhola Ibéria confirmou a operação de voos diretos entre Recife e Madri a partir de dezembro de 2025, e Fortaleza e Madri a partir de fevereiro de 2026, segundo registros no sistema da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC). As rotas, que usarão aeronaves Airbus A350-900 (capacidade para 348 passageiros), representam um avanço para o Nordeste, região que recebeu apenas 8,7% dos voos internacionais do Brasil em 2023 (ANAC), apesar de abrigar 28% da população nacional.


Entre oportunidades e contradições:
O anúncio surge em um contexto de recuperação lenta do setor: o Brasil ainda opera 18% menos voos internacionais que em 2019 (IATA), e o Nordeste concentra 37% dos desempregados do país (IBGE, março/2024), muitos em setores ligados ao turismo. Para cidades como Recife, onde o desembarque de estrangeiros cresceu 24% em 2023, as rotas podem alavancar a economia local. "Cada voo transatlântico gera até R$ 300 milhões anuais em impactos indiretos", explica Carlos Brito, economista da UFPE.


O outro lado da rota:
A euforia, porém, esbarra em desafios estruturais:




  • Emissões de carbono: Um voo Recife-Madri emite 2,3 toneladas de CO₂ por passageiro (calculadora ICAO), em um planeta que bateu recordes de temperatura em 2023;




  • Concentração de investimentos: Enquanto Recife e Fortaleza avançam, cidades como Salvador seguem sem voos diretos para Europa desde 2020;




  • Custo social: 41% dos nordestinos nunca viajaram de avião (pesquisa Datafolha/2024), e o preço médio das passagens (R$ 4,2 mil ida e volta) permanece inacessível para boa parte da população.




Um voo para o futuro?
A Ibéria, que já opera em São Paulo, Rio e Belo Horizonte, busca capitalizar o potencial do Nordeste, destino de 12% dos turistas estrangeiros no Brasil (MTur, 2023). Para Madri, a estratégia também é geopolítica: a Espanha é o 2º maior investidor europeu no Brasil, com projetos em energia renovável no Ceará e Pernambuco.


O que está em jogo:
Especialistas veem a iniciativa como um teste para o equilíbrio entre crescimento e sustentabilidade. Enquanto governos locais celebram a geração de empregos, organizações como o Observatório do Clima lembram que a aviação responde por 3,5% do aquecimento global (IPCC, 2023). "É preciso compensar emissões e investir em combustíveis sustentáveis", defende Ana Luíza Silva, engenheira ambiental.


Se, por um lado, as rotas aproximam o Nordeste do mundo, por outro, desafiam o setor a repensar modelos em um cenário de crise climática e desigualdades históricas. Como resume Brito: "Conectar céus é vital, mas não basta se o chão ainda é tão desigual".

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