Publicado em: 23/03/2025
Ceará avança na construção de três novos hospitais regionais, mas desafios históricos pressionam por urgência
Projetos no Interior buscam reduzir desigualdades em saúde, mas estado ainda enfrenta filas de espera e mortalidade evitável
O Ceará anunciou a construção de três novos hospitais estaduais no Interior — em Crateús, Iguatu e Baturité —, ampliando para sete o número de unidades de alta complexidade fora da capital. A iniciativa, parte da Política de Regionalização da Saúde (em vigor desde 2015), visa descentralizar atendimentos como oncologia, traumatologia e obstetrícia. No entanto, o avanço ocorre em um contexto crítico: o estado registrou 14,2 mortes infantis por 1.000 nascidos vivos em 2023 (IBGE), acima da média nacional (11,8), e 23% da população rural cearense percorre mais de 50 km para acesso a cirurgias (DataSUS, 2024).
Entre a promessa e a realidade:
Atualmente, o Interior dispõe de quatro hospitais terciários — em Sobral, Juazeiro do Norte, Quixeramobim e Limoeiro do Norte —, que atendem 41 municípios. Com as novas unidades, a meta é cobrir regiões como os Sertões de Crateús, onde 300 mil pessoas de 11 cidades dependem hoje de deslocamentos de até 200 km para tratamentos especializados. "A interiorização salva vidas, mas precisamos acelerar", afirma Tânia Coelho, secretária estadual da Saúde, em referência ao Hospital Regional de Crateús, cujas obras começaram em outubro/2024 com investimento de R$ 40 milhões e previsão de 280 leitos.
Dados que exigem ação:
Mortalidade materna: No Ceará, a razão é de 62,3 óbitos por 100 mil nascidos vivos (2023), acima da meta da ONU (30) — o HR de Iguatu, com foco em obstetrícia, busca enfrentar esse cenário;
Acesso a oncologia: Apenas 18% dos tratamentos de câncer no estado são realizados no Interior (Instituto do Câncer do Ceará, 2024);
Sobrecarga em Fortaleza: Dos 14 hospitais estaduais, 10 estão na capital, que concentra 35% das internações de alta complexidade (Sesa, 2023).
O que está em jogo:
O Hospital Regional do Centro-Sul e Vale do Salgado (Iguatu), previsto para ser o maior da rede com 247 leitos, atenderá 17 municípios onde 40% das gestantes realizam menos de seis consultas pré-natal (Sesa). Já o HR Maciço de Baturité, ainda em fase de licitação, deve desafogar a Região Metropolitana, responsável por 58% das transferências de urgência do Interior (2023).
Um passo à frente, obstáculos à vista:
Apesar do avanço, especialistas alertam para gargalos:
Falta de profissionais: O Ceará tem 1,4 médico por 1.000 habitantes no Interior, abaixo da média nacional (2,4) (CFM, 2024);
Financiamento: Os R40milho~esinvestidosemCrateuˊsrepresentam∗∗0,3 13,2 bi);
Infraestrutura: 32% das estradas cearenses estão em estado ruim ou péssimo (DNIT), dificultando acesso às novas unidades.
Para Maria Gonçalves, sanitarista da UFC, "a regionalização é vital, mas exige plano de cargos para reter médicos e parcerias com universidades". Enquanto os hospitais não saem do papel, milhares continuam dependendo de um sistema que, embora em transformação, ainda reflete as assimetrias de um Brasil profundamente desigual.